sábado, 20 de setembro de 2008
O Poder da Livre Opinião
Esta semana li duas matérias muito boas no Portal da Imprensa (mais um entre os vários sites bacanas que me foram apresentado pela BF.). Uma delas discutia a profissão do jornalista, o caráter humanista da formação, muitas vezes negligenciado nas faculdades de jornalismo que parecem mais interessadas em formar técnicos, o que aliás, é claro, atualmente não é uma exclusividade desta área. A outra falava da nossa velha e boa blogosfera com um título que teve um efeito magnético na minha pessoa: Blogueiro não é jornalista.
Essa segunda matéria é longa e só foi publicado um trecho, já que é a matéria de capa da revista Imprensa deste mês, mas já é o suficiente para nos conduzir à várias reflexões. Bem, essa revista, que recentemente completou 20 anos de existência, é a mais antiga e conceituada publicação sobre jornalismo e comunicação no país. Foi criada para refletir sobre a profissão e sobre a qualidade da produção dos jornalistas e dos veículos de imprensa, da mídia, etc. E se ela volta sua atenção para os blogs, acho que vale a pena pararmos para pensar também, né?
É... tem muita reflexão que pode (e deve) ser feita sobre a internet, sobre os blogs. Principalmente por que é um meio que tem uma velocidade de expansão absurda. Qualquer parâmetro alcança fácil e rapidamente a casa dos milhares, milhões...
Bom, esse lance todo, obviamente, me pegou por conta do fato de que, recentemente, uma vez vencida minha abissal preguiça, finalmente passei para o outro lado do balcão do mundo "maravilhoso" dos blogs e me tornei responsável, diretamente, por um deles.
Responsável... hum... boa palavra essa. Será que as pessoas que têm blog consideram essa palavra? Será que responsabilidade é compatível com essa atividade? Ou será que o que vale é a filosofia "o blog é meu eu faço o que eu quiser e pronto!"? O blog é um espaço pessoal ou público? Qual é a intenção/objetivo de quem tem um blog?
Têm muitos "serás" na minha cabeça. Muuuuitos... sorry...
É que as vezes a gente vê umas coisas, lê umas coisas... sei lá... me ensinaram a ter responsabilidade.
Em termos de informação na internet hoje, temos os portais, os sites de jornais/revistas/TVs/rádios, os sites de organizações (acadêmicos, de entidades, etc) e... blogs. Muita gente se informa através deles. E então? E aí? Devemos considerar a tal "responsabilidade" ou isso não tem nada a ver?
A imensa maioria de nós, blogueir@s, não é jornalista e nem é necessário que seja. A idéia, inclusive, é justamente essa. Mas isso tira de nós a responsabilidade com o que postamos?
Aqui, uma observação importante: responsabilidade e seriedade não são sinônimos de chatice. Ser responsável não implica em não ter humor, leveza, não escrever coisas engraçadas/divertidas. Fazer um blog sério não significa que você queira induzir alguém ao suicídio pela chatice.
Tudo bem, temos de saber distinguir as coisas. Blogs surgiram com uma finalidade, um propósito, uma intenção. São diários virtuais, páginas pessoais, um veículo para expor criatividade, expressar idéias e tal. Mas estão acessíveis a qualquer pessoa. Não é só o autor e seus amigos que o lêem e, é claro, queremos mais é que um monte de gente leia.
Outro ponto: quantidade não é, nunca foi e nunca será, sinônimo de qualidade.
Se você não tem critério para saber se o que está lendo ou escrevendo é bom ou não, se você só está preocupada em fazer (um blog), em ter um espaço, e não com o que ele contém, então, realmente, as coisas começam a ficar esquisitas e, aí sim, chatas.
Voltando um pouco para o aspecto informação na internet, e indo ao ponto que nos interessa, não podemos esquecer que para nós, homossexuais, os blogs se tornaram extremamente importantes. Considero que eles foram uma ferramenta muito útil no que diz respeito à nossa visibilidade, para nos tirar das sombras, dos guetos, falarmos uns com os outros, sabermos da existência uns dos outros, enfim, fazer contato. Isso muito antes de Orkuts, listas e coisas que tais. Aliás, muitas das tais "listas" (grupos de discussão) surgiram a partir deles.
Como já relatei aqui, as primeiras informações que encontrei sobre homossexualidade na net estavam em blogs. E acho que não é absurdo deduzir que com muita gente acontece a da mesma forma.
E aí, menina? Como ficamos? O fato de estarmos assistindo ao boom dos blogs feitos por lésbicas te satisfaz?
Claro, tem gente que acha que qualquer coisa é melhor do que nada. Que qualquer aparição na mídia é uma grande contribuição (deve ser algo na linha de raciocínio do "falem mal, mas falem de mim"). Que qualquer piada vale a pena, afinal o que importa é gargalhar (essa deve seguir a linha do "perco o amigo mas não perco a piada"). Tem ainda as que acham bacana fazer a linha "cafajeste" mas no final só conseguem mesmo incorporar conceitos defasados, que nessa altura do campeonato já deveriam estar mais do que extintos e não sendo exaltados, numa tentativa de ser "original" ou "engraçada"... e por aí vai.
Eu já acho que, na maioria das vezes, nenhuma informação é melhor que uma informação errada e que estereótipos e visões preconceituosas (principalmente as que reforçam o auto-preconceito, o sexismo, o machismo, etc, por exemplo) já são bem fortinhas. Não precisam da nossa contribuição para permanecerem nas bocas, corações e mentes. Especialmente nas NOSSAS bocas, corações e mentes.
Matérias citadas no post:
Igual, mas diferente
http://portalimprensa.uol.com.br/revista/edicao_mes.asp?idEdicao=14&idMateriaRevista=152
Diploma para uma formação humanista
http://portalimprensa.uol.com.br/colunistas/colunas/2008/09/16/imprensa289.shtml
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Queer = desconstruir, revolucionar e evoluir
Muita gente ouve e usa o termo "queer" sem saber do que se trata. Aliás, sem ter nenhuma noção. Acha que é só mais um termo "muderninho" e descolado para designar os homossexuais. Alguns pegam o bonde andando e acabam confundindo ainda mais as coisas. Outro dia me deparei com uma dessas que perdeu o bonde, o que não seria um grande problema se a tal pessoa não escrevesse para o auto-intitulado "maior portal lés" (ou coisa parecida). Aíííííí.... o que deveria ser informação passou a ser um "pelo que eu entendi" (literalmente) e outras coisas que tais. Pena que ela parece não ter entendido naaaaaaaaaaaada.
Cacilda! Não seria o caso de ir buscar informação, aprender, conhecer, antes de sair escrevendo um "pelo que eu entendi" ???? E pior, dizer que não "concordou muito"...??? Putz grila!!! Fala sério...
Bom... os Estudos Queer são o que há de mais revolucionário que se possa conceber. Ele vai ao cerne da cultura, identifica e aponta onde o caminho escolhido pela humanidade vai dar para chegarmos aonde estamos hoje, ou seja, sem ferramentas para evoluirmos como seres e entendermos o mundo que nos cerca. Mundo esse que, por ter sido moldado dentro de parâmetros completamente artificiais, no que diz respeito à sexualidade, não dá mais conta de enquadrar toda a diversidade, esta sim natural, que existe.
Surgido nos anos 90 da reunião de um grupo de intelectuais, bastante diversificado, que passaram a utilizar o termo "queer" para descrever seu trabalho e sua perspectiva teórica, os Estudos Queer propõem a desconstrução, a não conformidade e, principalmente, são contra a normalização, seja ela qual for, venha de onde vier. Sendo assim, se opõem, não só a heteronormatividade compulsória, mas também ao caráter de integração, normalização, estabilidade e assimilacionismo que norteia o movimento LGBT a partir de sua organização nos anos 70.
Queer é a diferença que não quer ser assimilada ou tolerada.
Ser Queer é atravessar fronteiras, explorar ambigüidades, explorar a fluidez, apreciar a transgressão, principalmente no sentido de questionar naturalizações e superioridades. Exemplo: por que a heterossexualidade é superior?
Para a Teoria Queer não é suficiente denunciar a negação e o submetimento dos homossexuais. É necessário desconstruir o processo pelo qual alguns sujeitos se tornam normalizados e outros marginalizados. Além disso, nos esclarece/mostra/explica que, como a heteronormatividade é artificial e imposta, é necessário uma constante reiteração das normas sociais para garantir que esta identidade sexual (hetero) é legitima ou a única a ser considerada "normal".
Enfim... os Estudos Queer são fascinantes, vastos, e aqui tive a pretensão de dar apenas uma pincelada rápida e motivá-las a ler o EXCELENTE trabalho da Profa Guacira Lopes Louro que o UVA NA VULVA disponibilizou sobre o assunto. Vale a pena, posso garantir.
http://www.uvanavulva.com.br/blog/teoria-queer
Os Estudos Queer, sem dúvida, mudam a nossa visão do mundo, abrem novas perspectivas e trajetórias para o que antes achávamos não ter saída ou solução.
Ser Queer, definitivamente, não é para qualquer um... mas está ao alcance de todos.
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