quarta-feira, 28 de maio de 2008

Essa Tal Sociedade Organizada


Gostaria muito que alguém me explicasse de novo esse lance de "sociedade organizada"... tipo... "sociedade organizada" é bom pra que mesmo, hein?

Calma... Péra... Eu sei que no sistema político-econômico em que existimos, e que, diga-se de passagem, permite e incentiva esse tipo de relação associativa entre as pessoas, você tem mais é que se organizar mesmo! Do mais simples ao mais complexo. Sindicatos, grêmios, cooperativas... enfim... grupos! O negócio é "se juntar". Afinal, a tal da "a união faz a força" é uma lei da física! Né não? É sim! Científico, camaradas!

E a gente se junta pra que? Então, a gente se junta pra ter força, pra unir interesses, para conquistar direitos.... ou... simplesmente para não ser prejudicado... OPA! Repita! Para não ser prejudicado! Para conseguir sobreviver! Não ser trucidado, espancado, morto, roubado, violentado e mais um montão de coisinhas bacanas assim... tipo, te chamarem de "encarnação do mal".

E nossotros, GLBTTIs, nos encaixamos direitinho nesse caso aí: SOBREVIVÊNCIA!!!!

Pois é... Tudo beleza! Sociedade organizada, pessoas organizadas, força, união, mais equilíbrio, menos exploração. E onde será que começam os problemas nessa solução que parece ser a organização? Bem, acho que a antropologia pode explicar muito bem isso. Além do mais, como não somos nada originais, para nos defendermos das macro-estruturas de poder, repetimos o mesmo esquema, igualzinho, nas micro-estruturas que criamos para essa finalidade.

Aí, dança tuuuudooo!

Porque o poder tem um interessante efeito apaixonante em quem o conquista. Estabelece-se um caso de amor eterno. Um não pode viver sem o outro, o outro não pode viver sem o um... E aí, as coisas que deveriam ser mudadas, tendem a ser mantidas... por que mudar pode significar perder o poder. Interessante, né?

Mais interessante ainda é constatar que, mesmo estando calvas de saber de tudo isso, ainda continuamos a brincar de nos organizar.

Nenhum segmento da sociedade, sejam os GLBTTIs, os negros, as mulheres, os produtores de alface de Cotia, etc, tem a exclusividade da falta de visão que faz com que as mesmas estruturas, que não funcionam, continuem sendo usadas. Mas, no que me diz respeito (as questões relativas aos GLBTTIs), isso não me impede de dizer o que eu acho disso tudo, indo direto ao ponto, sem metáforas ou figuras de linguagem:

A tal militância continua usando uma mentalidade velha e arcaica para conduzir as discussões de propostas de políticas públicas, repetindo modelos estruturais de organização e representatividade com o velho ranço partidário-sindicalista, no pior sentido da palavra, o que faz com que incorramos nos mesmos erros de sempre, com os mesmos resultados insatisfatórios e alimentando os mesmos vícios e vaidades que o poder proporciona em quem o exerce.

Isso não promove a unidade da qual tanto precisamos e não precisa ser assim.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Quase 8 ou quase 80


Estou aqui tentando achar uma linha de raciocínio para escrever sobre a Parada do Orgulho GLBTTI (o "I" é por minha conta, já que é raro encontrá-lo, mesmo na tal míííídia especializada) de ontem, 25/05. Uma balanço, uma avaliação, enfim... essas coisas. Ontem fiquei tentando acompanhar pela internet e pela televisão, afinal é isso o que as pessoas do resto do Brasil, quiçá do mundo, vão ver. Tô meio sem saber o que dizer. No que se refere à imprensa..., tudo meio... xoxo...

Será que é assim que as coisas acontecem? Ou overdose de informação ou uma coisinha aqui, outra ali, discretamente. É, acho que a Parada já entrou pro mainstream... ou foi absorvida pelo nosso magnífico capitalismo, como bem descreveu a A. Azevedo no seu comentário ao post anterior. Êta mundinho complicado!

No mais, nada mais... só vi, até agora, um rápido registro (melhor que nada?) de uma fala de um participante (não militante, diga-se) lembrando que podemos ter a maior Parada, mas somos os que menos têm direitos adquiridos... ou conquistados, em relação ao mesmo ranking.

Caminhada Lésbica, no dia anterior... novidades: UM trio elétrico... ãããã... 500 pessoas (100 no ano passado)... ããã... discurso da Soninha Francine (vereadora e candidata a prefeita.... enfim, não preciso apresentar) que deve ter sido legal por que ela é legal e escreveu um post legal no blog dela... ah, sim, e um slogan compriiiiiiiiiiiiido: "Ser lésbica é um direito. Nem igreja, nem mercado. Nosso corpo nos pertence. Por um Estado laico de fato". Caciiiiiilda!

É... vou ficar devendo um balanço mais decente do "evento". Quem sabe com um pouco de distanciamento histórico eu consiga dizer alguma coisa mais significativa.

Perguntinha: quantos por cento dos 189 milhões de reais, que a Parada rendeu só nessa edição, para a cidade de São Paulo, vão reverter em benefício, conquistas e/ou respeito para movimento GLBTTI?

Em tempo: um "T" é para os Travestis, outro "T" os Transexuais e o "I" significa Interssexos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Parada da Mídia


Não é uma beleza quando a gente encontra um texto que traduz exatamente o nosso pensamento sobre o que quer que seja?

O texto abaixo é um bom exemplo disso. Ele fecha uma idéia/impressão que eu tinha e ainda não tinha chegado a concluir.


Telejornalismo é inseguro para cobrir a temática gay, diz pesquisa

Redação Portal IMPRENSA

Enquanto a cidade de São Paulo se prepara para receber, no próximo dia 25, milhões de pessoas para a Parada do Orgulho Gay - com mobilização do comércio, da rede hoteleira, de agências de viagens e de empresas de entretenimento e lazer - a mídia impressa e eletrônica ainda é tímida na hora de dar espaço para a temática gay.

A constatação é do jornalista, historiador e professor Irineu Ramos, que, em sua dissertação de mestrado, analisa as reportagens que os telejornais das TVs abertas fizeram da Parada Gay de 2007, e que agora completam um ano.

"O jornalismo eletrônico deixa transparecer uma forte insegurança na hora de cobrir os eventos e os fatos gerados pelo acontecimento da Parada paulista. Tanto que é incapaz de relatar questões subjetivas do mundo homossexual", diz Ramos. Para o pesquisador, os telejornais tornam-se prisioneiros de temas-chavão e, com isso, produzem um gay que pouco tem a ver com a realidade.

Para explicar melhor a questão da identificação desses temas, o jornalista efetuou a clipagem (captura de imagens) de todas as reportagens das TVs abertas envolvendo a Parada de 2007, no período compreendido entre cinco dias antes da festa (a preparação) e dois dias após (o rescaldo). Nesse espaço de tempo, a Parada Gay foi notícia 48 vezes.

"Os telejornais praticamente ignoraram os aspectos relacionados à sub-cultura gay (o que daria subsídios e condições para uma discussão junto com a sociedade) e prenderam-se apenas em questões concretas, como o faturamento do comércio, a lotação dos hotéis e as ocorrências policiais envolvendo punks, roubos de celulares e assassinato de um turista francês, por exemplo", diz.

Ramos explica que ignorar toda a realidade humana de um segmento da sociedade - reduzindo este universo social a uma fonte de renda para o comércio - é estabelecer fronteiras que delimitam categorias sociais e culturais: "deixar de lado a diversidade que compõe o mundo homossexual é estabelecer regras de conduta e produzir mais desigualdade".

Uma das questões principais da reprodução da desigualdade está no fato de os telejornais não separarem sexo de gênero. "Isto é uma forma hegemônica de ver o mundo. A TV não consegue transmitir gêneros sociais sem estabelecer vínculo com o comportamento sexual", comenta. A falta dessa distinção faz com que o telespectador não consiga entender a diferença entre um e outro. Com isso, acaba reproduzindo conceitos preconceituosos.

Países como os Estados Unidos dispõem de entidades organizadas para reduzir o preconceito sexual na mídia. Em Los Angeles, por exemplo, a Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), instituição especializada na atuação junto aos meios de comunicação contra a difamação sexual é chamada por diretores de programas de televisão de cinema para identificar se determinado projeto de filme ou entretenimento tem cunho preconceituoso.

Fonte: Portal Imprensa

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Na Expectativa


Eu não estou entre as pessoas que acham que os fins justificam os meios. Não acho, por exemplo, que qualquer visibilidade é melhor que nenhuma visibilidade por que, geralmente, aparecer por aparecer significa muito trabalho para separar o que é real e o que não passa de uma oportunidade para chamar a atenção. E nesse quesito incluem-se estereótipos, distorções, manifestações isoladas, atitudes caricatas, sensacionalistas, histriônicas, enfim, muito resíduo que atrasa, dificulta e atrapalha a compreensão do todo.

Num mês onde a "maior Parada do Orgulho GLBTTI do planeta" se realiza, essas coisas todas vêm a minha cabeça.

A última parada que fui quebrou a significativa barreira do milhão. Tudo bacana, sem incidentes e tive a impressão, e isso pode não passar de um reflexo do que eu mesma sentia, de que todos que estavam lá voltaram pra casa com alguma sensação de orgulho, com algum tipo de entusiasmo por aquilo ter acontecido daquela maneira. Existia a expectativa de um up-grade no evento, mas não deixou de ser surpreendente.

Depois daquilo, fiquei pensando: como será que vamos lidar com a reação que isso vai provocar.

À parada passada eu não fui. Não tive a menor vontade. Como se algo me dissesse que tudo ia ser exagerado demais. Para o bem, com um pouco de sorte, e/ou para o mal. Só que o errado aparece mais do que o certo no mundo como o conhecemos.

E ei-nos aqui, às vésperas de mais uma parada. Os jornais adiantam que essa será uma parada mais da militância. Tomara!

Curiosidade e expectativa. Quero ter aquela sensação de entusiasmo de novo. Cruzem os dedinhos e preparem os olhinhos por que vou continuar falando sobre isso. E certamente a caminhada das lésbicas, que antecede a parada vai estar por aqui.

sábado, 10 de maio de 2008

A Nova Família - Revolução e Evolução



Eu acho que nasci num momento bem interessante da história da humanidade. Talvez não seja o mais interessante, mas sem dúvida é bem movimentado. Em que outro momento se experimentou uma velocidade tão grande na evolução da tecnologia ou quantos tiveram a oportunidade de viver numa época que permitiu testemunhar tantas mudanças em termo de usos, costumes, etc etc, e, agora o mais interessante: valores morais.

Sim, sim, crianças, quer queiram, quer não queiram, os senhores das regras e os seus obstinados seguidores e guardiões estão vivendo em tempos em que os rígidos ditames criados para atender às necessidades econômicas estão entrando em colapso, por que são artificiais. A estrutura tradicional da família, criada para assegurar a manutenção das riquezas acumuladas, do poder e do status quo, não funciona mais.

Enfim, meus queridos e minhas queridas, tá chegando a hora... da verdade. Essa é a minha sensação... ou será a minha esperança?

De qualquer forma, parece que finalmente começa a surgir uma frestasinha por onde os laços de afeto verdadeiros podem entrar e se estabelecer.

Novas famílias, novas dinâmicas. E os casais de lésbicas e gays que constituem família, me parece, exercer um papel fundamental nesse cenário, por que são o que melhor simboliza os tais laços verdadeiros... de afeto, de união.

Fundamental por que a luta que essas pessoas travam para terem seus direitos reconhecidos pelo Estado e pela sociedade, evidencia o que deve ser importante, ou melhor, as únicas coisas que devem ser importantes: amor, afeto, respeito, caráter.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fato & Ficção



Ro Ro, fato e ficção

por Vange Leonel

Hoje em dia, realidade e fantasia se misturam e muita gente não percebe a diferença entre uma e outra.

Se, de um lado, os programas de reality show transformam pessoas "da vida real" em personagens de ficção, por outro lado, invenções de mentes brilhantes (ou não) são tomadas por realidade pura.

Dias atrás, Angela Ro Ro -lésbica notória, cantora e compositora de humor inteligente- declarou à coluna Monica Bergamo, na Folha, que estava apaixonada por um ex-padre romeno.

Não se sabe se a declaração teve algo a ver com o depoimento da também cantora Ana Carolina, à mesma coluna, na semana anterior, dizendo estar a fim de fazer sexo com um homem.

Enfim, isso não interessa. O que chamou a atenção foi a dúvida suscitada pela declaração de Ro Ro: alguns fãs passaram dias se perguntando na internet se a cantora fez piada ou falou a verdade.

Na própria entrevista, Ro Ro revelou ter criado o romance com o ex-padre porque "a realidade nua e crua não daria conta de seduzir o público". Ou seja: mesmo afirmando entre dentes ter inventado tudo, a cantora, com talento de mestre prestidigitador, foi capaz de inocular a dúvida em alguns desavisados com um factóide perspicaz.

O truque funcionou. Ro Ro chamou atenção para o seu show. E ainda demonstrou que a mídia, mais que meio, é hoje espaço e palco em que fato e ficção acontecem quase sem distinção.

© Vange Leonel, para a Revista da Folha em 04.05.2008

Link original: http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf0405200823.htm

sábado, 3 de maio de 2008

Nenhuma informação ainda é melhor do que uma informação errada


Será que a facilidade de acesso à informação é indiretamente proporcional a qualidade da informação? Será que quanto mais informação tivermos ao nosso dispor mais desinformados seremos? Essas não são perguntas muito originais, mas é difícil não concluir que o estágio atual da comunicação não passa de uma daquelas ironias do destino. Ou seja, antes tínhamos cabeça mas a informação não estava disponível para todos. Hoje temos toneladas de informação entrando por todos os buracos do indivíduo e não sabemos processá-la, muito menos o que fazer com ela, muuuuuito menos saber distinguir o que presta e o que não presta.

Não saber distinguir é um grande problema, por que, infelizmente, a maioria dos que estão "produzindo" informação nos dias de hoje não têm o menor compromisso ou preocupação com qualidade. Competência e isenção são artigos de luxo. Um bando de gente escrevendo sobre um bando de coisas. De qualquer jeito.

É claro que essa constatação vale para a informação de uma maneira geral. Mas é claro, também, que a minha particular preocupação está dirigida ao que existe de informação disponível para as lésbicas. Dando uma olhada no que temos por aí, não posso deixar de ter a impressão de que nenhuma informação ainda é melhor do que uma informação errada. Será? Eu acho.

Complicado isso.

Me incomoda constatar que o conhecimento está regredindo, que certas edificações estejam sendo erguidas sobre bases envelhecidas e comprometidas. Pra algum lugar a gente vai, mas... Tinha a esperança de ser testemunha ocular de alguma evolução. Enfim...