quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu quero um samba feito só pra mim?


Em alguns idiomas "ser" e "estar" são expressos através do mesmo verbo. As palavras que compõem um idioma dizem muito sobre como construímos os conceitos na nossa cabeça, qual a dimensão que damos as coisas, qual o espaço mental que temos para ampliar nossa compreensão dos fatos, do novo, do diverso... já disseram até que só é possível filosofar em alemão.

Bem, em português, "ser" e "estar" são verbos diferentes..., como já sabemos... rss. E de fato são coisas diferentes. Você não "é", automaticamente, só por que "está"... e vice-versa.

Ai, ai... tudo isso só por que eu queria falar sobre a relação entre estar no mundo e fazer parte dele.

Na verdade, queria chegar num ponto mais específico: guetos.

Essa palavra sempre vem a minha cabeça quando recebo alguma propaganda, leio alguma notícia, etc, a respeito de algo feito, criado ou dirigido especificamente para um grupo de pessoas com algo em comum, geralmente por alguém que tem esse "algo em comum"... ou não.

No âmbito pessoal, é, ou seria, bastante lógico e até saudável, você concluir que, para existir integralmente, é interessante que você se destaque, se diferencie. Mas, quando pensamos em grupos, é bem esquisito verificar que, às vezes, para fazer parte, ou para conseguir sobreviver, você tem de se separar.

Assim, nossotros gays, por exemplo, criamos, lugares específicos, revistas específicas, livros, serviços, roupas, linguagem, etc etc e mais infinitos eteceteras. Falamos de nós para nós mesmos. Somos como somos para nós mesmos. Pra geral, só estereótipos e clichês.

Antes de qualquer coisa, sempre é mais do que bom lembrar que nada é bom ou mau em si, certo? Tudo depeeeende. Isso sem falar que nada é SÓ bom ou SÓ mau.

Mas será que o que nos protege, "liberta" e fortalece, num primeiro momento, não acaba por nos empurrar cada vez mais para um nicho periférico: os diferentes (na melhor das hipóteses)?

Sem dúvida temos nossas necessidades específicas. Sem dúvida união é imprescindível, unidade é fundamental e ter um objetivo, uma direção, é o ideal, principalmente nesse mundo hostil a quem não se enquadra nos padrões artificialmente construídos que nos são impostos e nos submete a todo tipo de violência e preconceito.

Necessidade de discutirmos, trocarmos experiências e vivências, descobrirmos qual é a nossa identidade, nos reconhecermos no semelhante, construirmos nossos valores e nossa história com dignidade e respeito, tudo isso é urgente!

Mas falarmos sobre nós para TODOS tem um efeito muito mais transformador, revolucionário e eficaz no que se refere à inclusão e naturalização.

Assim, nos unirmos para produzir a informação é mais do que bem-vindo e inteligente, é uma questão de sobrevivência. Mas nos dirigirmos APENAS aos "iguais" surte, em pouco tempo, o efeito da segregação.

Isto posto, acho que vale a pena a reflexão.

O que não podemos é criar um molde de como as coisas devem ser, fazer tudo a partir desse molde e desligar o raciocínio. Cada problema tem a sua solução e, PRINCIPALMENTE, seu jeito de ser resolvido.

Afinal, eu quero um samba feito só pra mim?


Eu quero um samba
(Haroldo Barbosa e Janet de Almeida)

Eu quero um samba feito só pra mim
Eu quero a melodia feita assim
Quero sambar porque no samba eu sei que vou
A noite inteira até o sol raiar

Ah! Quando o samba acaba, eu fico triste então
Vai melancolia, eu quero alegria dentro do meu coração

Ah! Quando o samba acaba, eu fico triste então
Vai melancolia, eu quero alegria dentro do meu coração

Eu quero um samba feito, um samba feito só pra mim
Eu quero a melodia feita assim
Quero sambar porque no samba eu sei que vou
A noite inteira até o sol raiar


Para ouvir:

http://www.mp3tube.net/br/musics/Joao-Gilberto-Eu-Quero-um-Samba/198171/

sábado, 4 de outubro de 2008

A Importância do Conteúdo


Interessante a natureza, né? Nada é totalmente bom ou mau. Para cada vantagem existe uma desvantagem... e assim por diante. Assim é em relação a tudo, desde sempre. Um bom jeito de verificar isso é quando vemos uma determinada atividade se transformando. O que sempre foi de um jeito, por um motivo qualquer, como tecnologia, por exemplo, começa a adquirir novas formas, novos espaços, se torna acessível, ao alcance de todos. Estamos assistindo isso com a comunicação em todas as suas dimensões. E o grande agente transformador, logicamente, é a Internet.

Parênteses. Estava aqui me lembrando de todas as transformações tecnológicas das quais fui testemunha e me lembrei do seguinte: no meu primeiro dia de escola, minha mãe, percebendo que eu não estava nem um pouco feliz com a aquilo, me deu um apontador no formato de um telefone, um telefonezinho verde, e me disse que, qualquer coisa, eu podia ligar pra casa. Hum... hoje, provavelmente, eu levaria meu celular e, certamente, ligaria pra ela cinco minutos depois dela virar a esquina, tipo "me tira daquiiiiiiii!!!!!". Fecha parênteses.

Mas o que tem me chamado a atenção nessa historia toda de tecnologia, e mais objetivamente Internet, é o que ela tem feito com a informação, que, como todos sabemos, é também sinônimo de "poder".

Tornar a informação acessível a todos é bacana. Sem dúvida! Tornar acessível a qualquer um produzir informação é bacana também. Porém, isso envolve uma série de questões e riscos que podem não ser nada bacanas.

Sem ter a intenção de ser chata, o que eu quero propor é uma reflexão. E felizmente não estou sozinha. Por algum fenômeno, "lei da atração", inconsciente coletivo, tenho esbarrado em entrevistas, textos, matérias que corroboram com minhas sensações sobre a qualidade da informação presente na Internet e, mais, sobre como esse veículo tem se tornado um grande facilitador na propagação de "informação". E é justamente por isso que os critérios na utilização desta ferramenta precisam ser cada vez mais considerados.

Isto posto, gostaria de compartilhar com vocês a entrevista que a jornalista Lucia Guimarães concedeu ao "Caderno 2" do jornal "O Estado de São Paulo" e que está na edição de hoje (04/10/2008).

Reflitamos, pois:

"Tecnologia criou crise de conteúdo''
Na era do blog, não se pode abdicar da consistência cultural, diz Lúcia Guimarães, que estréia segunda-feira nesta página

Ubiratan Brasil

Lúcia Guimarães sempre gostou de enfrentar desafios. E os mais recentes chegam quase simultaneamente: amanhã, ela se despede, ao vivo, do programa Manhattan Connection, que ajudou a criar e há 16 anos é exibido pelo canal por assinatura GNT. E, na segunda-feira, ela inicia sua colaboração com o Estado, publicando quinzenalmente uma coluna no Caderno 2, revezando com Matthew Shirts.

Nascida no Rio de Janeiro, Lúcia vive em Nova York desde 1985. Lá, exerceu diversas funções (editora internacional da Rede Globo, redatora do Jornal Nacional, produtora do jornalista Paulo Francis), mas sempre preocupada com o viés cultural. Em Nova York, centro criador de grandes tendências que se espalham pelo mundo, Lúcia desenvolveu um faro raro para o que é realmente cultural, e não apenas modismo descartável.

Esse é o assunto, aliás, de sua primeira coluna, em que comenta os 40 anos da New York Magazine, revista que separa o joio do trigo entre o turbilhão de novidades culturais produzidas na cidade. Com esse texto, Lúcia retoma o hábito de comentar e noticiar o que realmente acontece em Nova York para o Estado - em 1997, ela participou do Manhattan Connections, crônicas que eram publicadas no então Caderno 2 Especial Domingo, ao lado de Lucas Mendes, Caio Blinder e Nelson Motta. Sobre o retorno, ela respondeu às seguintes questões por e-mail.

Que tipo de assuntos você pretende tratar em sua coluna no Estado??

Em Nova York, pode-se cobrir grandes eventos culturais ou usar a âncora da cultura local para discutir idéias, comportamento. Então, espero poder circular nesse território, seja destacando um evento ou fazendo o perfil de protagonistas culturais ou escrevendo sobre temas que nos interessam no Brasil, usando a experiência local.

Aliás, qual é o tema da primeira crônica?

São os 40 anos da revista New York, que lançou uma edição especial com mais de 300 páginas. Agora sob o comando de Adam Moss, publica uma seleção sobre o que é brilhante e desprezível na alta e baixa cultura. Diferentemente da New Yorker, que tem uma reputação mais literária, a New York Magazine preocupa-se com tendências.

Qual deve ser hoje a função das crônicas que os jornais publicam?

Acho importante distinguir entre colunista e cronista. O cronista é literário e atemporal. O colunista é tópico e opinativo. Espero não ser auto-indulgente com o privilégio de ter um espaço para opinião. Espero ter o talento para transformar flagrantes mundanos, apesar de distantes geograficamente do leitor do Estado, em uma crônica.

Você acredita que um cronista celebra as vantagens das experiências pequenas e corriqueiras?

Sim, eu sou fã da revista mais bem escrita do mundo, a New Yorker, e acredito que uma boa história bem contada, por mais obscura ou corriqueira, pode capturar a imaginação do leitor.

Até que ponto um cronista pode (ou deve) ser um provocador?

O colunista pode ser um provocador, o cronista é um estilista. Mas nós estamos encharcados de polarização ideológica e de narcisismo editorial. A mídia americana e, infelizmente, cada vez mais a brasileira, está cheia de dardos à procura de alvos. Isso empobrece a polêmica. O polemista tem sido substituído pelo poseur.

Atualmente, com o crescimento do número de blogs, qual o perigo de a crônica em jornais desaparecer?

Não tenho como avaliar isso, mas é claro que os jornais estão enfrentando um enorme desafio. Como a necessidade é a mãe da invenção, já vejo soluções híbridas que acomodam as mudanças tecnológicas. O que eu acho importante é, depois desse período de susto, que os editores e as pessoas com poder de decisão aplaquem o instinto populista que tenta igualar qualquer pessoa com acesso ao teclado do computador. Paginar um grande articulista online ao lado de uma enxurrada de comentários inconseqüentes ou preconceituosos dilui a importância das idéias do artigo e não eleva o discurso das pessoas que querem se expressar. Não há nada errado com hierarquia. Especialmente agora, quando qualquer pessoa pode ter o seu blog, é importante as empresas de mídia não abdicarem do seu valor, da sua consistência editorial. A tecnologia criou não só uma explosão mas também uma crise de conteúdo.

Link original paara a matéria: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081004/not_imp253096,0.php

sábado, 20 de setembro de 2008

O Poder da Livre Opinião


Esta semana li duas matérias muito boas no Portal da Imprensa (mais um entre os vários sites bacanas que me foram apresentado pela BF.). Uma delas discutia a profissão do jornalista, o caráter humanista da formação, muitas vezes negligenciado nas faculdades de jornalismo que parecem mais interessadas em formar técnicos, o que aliás, é claro, atualmente não é uma exclusividade desta área. A outra falava da nossa velha e boa blogosfera com um título que teve um efeito magnético na minha pessoa: Blogueiro não é jornalista.

Essa segunda matéria é longa e só foi publicado um trecho, já que é a matéria de capa da revista Imprensa deste mês, mas já é o suficiente para nos conduzir à várias reflexões. Bem, essa revista, que recentemente completou 20 anos de existência, é a mais antiga e conceituada publicação sobre jornalismo e comunicação no país. Foi criada para refletir sobre a profissão e sobre a qualidade da produção dos jornalistas e dos veículos de imprensa, da mídia, etc. E se ela volta sua atenção para os blogs, acho que vale a pena pararmos para pensar também, né?

É... tem muita reflexão que pode (e deve) ser feita sobre a internet, sobre os blogs. Principalmente por que é um meio que tem uma velocidade de expansão absurda. Qualquer parâmetro alcança fácil e rapidamente a casa dos milhares, milhões...

Bom, esse lance todo, obviamente, me pegou por conta do fato de que, recentemente, uma vez vencida minha abissal preguiça, finalmente passei para o outro lado do balcão do mundo "maravilhoso" dos blogs e me tornei responsável, diretamente, por um deles.

Responsável... hum... boa palavra essa. Será que as pessoas que têm blog consideram essa palavra? Será que responsabilidade é compatível com essa atividade? Ou será que o que vale é a filosofia "o blog é meu eu faço o que eu quiser e pronto!"? O blog é um espaço pessoal ou público? Qual é a intenção/objetivo de quem tem um blog?

Têm muitos "serás" na minha cabeça. Muuuuitos... sorry...

É que as vezes a gente vê umas coisas, lê umas coisas... sei lá... me ensinaram a ter responsabilidade.

Em termos de informação na internet hoje, temos os portais, os sites de jornais/revistas/TVs/rádios, os sites de organizações (acadêmicos, de entidades, etc) e... blogs. Muita gente se informa através deles. E então? E aí? Devemos considerar a tal "responsabilidade" ou isso não tem nada a ver?

A imensa maioria de nós, blogueir@s, não é jornalista e nem é necessário que seja. A idéia, inclusive, é justamente essa. Mas isso tira de nós a responsabilidade com o que postamos?

Aqui, uma observação importante: responsabilidade e seriedade não são sinônimos de chatice. Ser responsável não implica em não ter humor, leveza, não escrever coisas engraçadas/divertidas. Fazer um blog sério não significa que você queira induzir alguém ao suicídio pela chatice.

Tudo bem, temos de saber distinguir as coisas. Blogs surgiram com uma finalidade, um propósito, uma intenção. São diários virtuais, páginas pessoais, um veículo para expor criatividade, expressar idéias e tal. Mas estão acessíveis a qualquer pessoa. Não é só o autor e seus amigos que o lêem e, é claro, queremos mais é que um monte de gente leia.

Outro ponto: quantidade não é, nunca foi e nunca será, sinônimo de qualidade.

Se você não tem critério para saber se o que está lendo ou escrevendo é bom ou não, se você só está preocupada em fazer (um blog), em ter um espaço, e não com o que ele contém, então, realmente, as coisas começam a ficar esquisitas e, aí sim, chatas.

Voltando um pouco para o aspecto informação na internet, e indo ao ponto que nos interessa, não podemos esquecer que para nós, homossexuais, os blogs se tornaram extremamente importantes. Considero que eles foram uma ferramenta muito útil no que diz respeito à nossa visibilidade, para nos tirar das sombras, dos guetos, falarmos uns com os outros, sabermos da existência uns dos outros, enfim, fazer contato. Isso muito antes de Orkuts, listas e coisas que tais. Aliás, muitas das tais "listas" (grupos de discussão) surgiram a partir deles.

Como já relatei aqui, as primeiras informações que encontrei sobre homossexualidade na net estavam em blogs. E acho que não é absurdo deduzir que com muita gente acontece a da mesma forma.

E aí, menina? Como ficamos? O fato de estarmos assistindo ao boom dos blogs feitos por lésbicas te satisfaz?

Claro, tem gente que acha que qualquer coisa é melhor do que nada. Que qualquer aparição na mídia é uma grande contribuição (deve ser algo na linha de raciocínio do "falem mal, mas falem de mim"). Que qualquer piada vale a pena, afinal o que importa é gargalhar (essa deve seguir a linha do "perco o amigo mas não perco a piada"). Tem ainda as que acham bacana fazer a linha "cafajeste" mas no final só conseguem mesmo incorporar conceitos defasados, que nessa altura do campeonato já deveriam estar mais do que extintos e não sendo exaltados, numa tentativa de ser "original" ou "engraçada"... e por aí vai.

Eu já acho que, na maioria das vezes, nenhuma informação é melhor que uma informação errada e que estereótipos e visões preconceituosas (principalmente as que reforçam o auto-preconceito, o sexismo, o machismo, etc, por exemplo) já são bem fortinhas. Não precisam da nossa contribuição para permanecerem nas bocas, corações e mentes. Especialmente nas NOSSAS bocas, corações e mentes.

Matérias citadas no post:

Igual, mas diferente
http://portalimprensa.uol.com.br/revista/edicao_mes.asp?idEdicao=14&idMateriaRevista=152

Diploma para uma formação humanista
http://portalimprensa.uol.com.br/colunistas/colunas/2008/09/16/imprensa289.shtml

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Queer = desconstruir, revolucionar e evoluir


Muita gente ouve e usa o termo "queer" sem saber do que se trata. Aliás, sem ter nenhuma noção. Acha que é só mais um termo "muderninho" e descolado para designar os homossexuais. Alguns pegam o bonde andando e acabam confundindo ainda mais as coisas. Outro dia me deparei com uma dessas que perdeu o bonde, o que não seria um grande problema se a tal pessoa não escrevesse para o auto-intitulado "maior portal lés" (ou coisa parecida). Aíííííí.... o que deveria ser informação passou a ser um "pelo que eu entendi" (literalmente) e outras coisas que tais. Pena que ela parece não ter entendido naaaaaaaaaaaada.

Cacilda! Não seria o caso de ir buscar informação, aprender, conhecer, antes de sair escrevendo um "pelo que eu entendi" ???? E pior, dizer que não "concordou muito"...??? Putz grila!!! Fala sério...

Bom... os Estudos Queer são o que há de mais revolucionário que se possa conceber. Ele vai ao cerne da cultura, identifica e aponta onde o caminho escolhido pela humanidade vai dar para chegarmos aonde estamos hoje, ou seja, sem ferramentas para evoluirmos como seres e entendermos o mundo que nos cerca. Mundo esse que, por ter sido moldado dentro de parâmetros completamente artificiais, no que diz respeito à sexualidade, não dá mais conta de enquadrar toda a diversidade, esta sim natural, que existe.

Surgido nos anos 90 da reunião de um grupo de intelectuais, bastante diversificado, que passaram a utilizar o termo "queer" para descrever seu trabalho e sua perspectiva teórica, os Estudos Queer propõem a desconstrução, a não conformidade e, principalmente, são contra a normalização, seja ela qual for, venha de onde vier. Sendo assim, se opõem, não só a heteronormatividade compulsória, mas também ao caráter de integração, normalização, estabilidade e assimilacionismo que norteia o movimento LGBT a partir de sua organização nos anos 70.

Queer é a diferença que não quer ser assimilada ou tolerada.

Ser Queer é atravessar fronteiras, explorar ambigüidades, explorar a fluidez, apreciar a transgressão, principalmente no sentido de questionar naturalizações e superioridades. Exemplo: por que a heterossexualidade é superior?

Para a Teoria Queer não é suficiente denunciar a negação e o submetimento dos homossexuais. É necessário desconstruir o processo pelo qual alguns sujeitos se tornam normalizados e outros marginalizados. Além disso, nos esclarece/mostra/explica que, como a heteronormatividade é artificial e imposta, é necessário uma constante reiteração das normas sociais para garantir que esta identidade sexual (hetero) é legitima ou a única a ser considerada "normal".

Enfim... os Estudos Queer são fascinantes, vastos, e aqui tive a pretensão de dar apenas uma pincelada rápida e motivá-las a ler o EXCELENTE trabalho da Profa Guacira Lopes Louro que o UVA NA VULVA disponibilizou sobre o assunto. Vale a pena, posso garantir.

http://www.uvanavulva.com.br/blog/teoria-queer

Os Estudos Queer, sem dúvida, mudam a nossa visão do mundo, abrem novas perspectivas e trajetórias para o que antes achávamos não ter saída ou solução.

Ser Queer, definitivamente, não é para qualquer um... mas está ao alcance de todos.

domingo, 31 de agosto de 2008

Livre Arbítrio


As coisas como são... Como são as coisas? Isso tudo que nos cerca, o lugar onde vivemos, as pessoas com quem convivemos... Nossa percepção, nossa necessidade de entender, nosso instinto de sobrevivência. O que somos e o que fazemos com isso. Sim, porque tudo depende do que fazemos com as coisas... ou, dizendo melhor, "O que somos é o que fizemos do que fizeram de nós" (Jean Paul Sartre).

Fascinação, espanto, irritação... são as reações mais comuns diante da interpretação que o outro tem de fatos, pessoas, atitudes, etc. É quase sempre chocante quando a gente constata que o que é importante pra nós não tem importância nenhuma pros outros. É... Olhar o mundo x olhar pra gente.

Olhar pra gente é fundamental. Olhar o mundo é imprescindível. Misturar esses dois "olhares", com o devido equilíbrio, deveria ser o ideal. Mas aí fazemos o que? Olhamos em volta e queremos ser iguaais aos outros... ou pior! Queremos que os outros sejam iguais a nós (!?!).

Uma das coisas mais difíceis de se conseguir é olhar o mundo e o outro sem os filtros ou parâmetros com os quais vamos sendo moldados durante nossa formação. Veja o caso do preconceito por exemplo. Ele é "colocado" dentro de nós desde tão cedo e de uma forma tão subliminar que é quase como se fosse mais um gene do nosso DNA ou algo que faz parte do nosso sistema nervoso autônomo como respirar, transpirar, dormir. Lutar contra nosso próprio preconceito é algo tão difícil e exige tanta energia e disposição que por vezes nos parece impossível.

Como qualquer ser humano decente, eu me envergonho dos meus preconceitos. Não quero tê-los, não quero sentí-los... mas, eles estão comigo. (Não é nem um pouco fácil escrever isso.) O que fazer? Como me livrar dessa matéria viscosa que parece que me reveste por dentro? Que distorce minha visão e contamina meu julgamento? Que pode me levar a cometer injustiças e causar sofrimento?

Bom... Feliz ou infelizmente nossa espécie tem esse negocinho chamado racionalidade e, conseqüentemente, capacidade cognitiva e livre arbítrio. E, ao contrário do que podemos imaginar, o que nos define é o nosso conhecimento, percepção e sensibilidade, não nossos condicionamentos. Condicionamentos não podem, não devem ter o poder de deformar a nossa capacidade de transformação, interna ou externa.

Se eu não consigo arrancar o preconceito de dentro de mim, posso ter consciência dele e agir ra-ci-o-nal-men-te contra ele, intencionalmente. Usar a força do oponente contra ele mesmo. Não me conformar e achar que "É assim mesmo". De que forma? Por exemplo não passando pra frente as idéias e conceitos errados que me foram incutidos e dos quais tenho consciência, que já consegui detectar em mim. Não é tão difícil assim. Exige atenção e vontade, se colocar no lugar do outro. Mas é possível de ser feito. É uma tentativa... e, nessa vida, temos no mínimo que tentar.

sábado, 9 de agosto de 2008

Clientes X Proprietários






Quando entrei no Orkut ainda era necessário que alguém, que já estivesse lá evidentemente, enviasse um convite etc e tal. Nessa época o Orkut tinha menos de 1 milhão de usuários... Bom, o que veio depois e como está atualmente, todo mundo sabe.

Enfim, hoje tenho uma certa (pra não dizer grande) preguiça em estabelecer contatos através do Orkut. Virou um grande entra-e-sai, perfis fakes, perfis múltiplos, sei lá.... desanimei... preguiça mesmo...

O que tenho feito no Orkut ultimamente é observar algumas comunidades que tratam de assuntos LGBTs. Raramente me animo a dizer alguma coisa porque, na maioria das vezes, as pessoas querem mesmo é falar sozinhas ou bater boca. São raras as oportunidades de troca de opinião ou conhecimento. Mas, pelo menos é uma amostra do mundo que nos cerca, da capacidade de intelecção, do nível de informação, etc etc etc.

Nessas espiadas pelos fóruns das comunidades, dois pontos têm me chamado a atenção. O primeiro diz respeito à falta de um conhecimento básico sobre sexualidade (gênero, identidade de gênero, identidade sexual, orientação sexual). O outro diz respeito à organização do movimento mesmo. Ou seja, a tal militância. É sobre esse segundo que quero falar.

Além de um grande desconhecimento histórico das origens do movimento, temos ainda de enfrentar uma confusão que determina TUDO o que está relacionado com isso, que é a confusão que se faz entre atuação política e atuação partidária.

Lá no começo do movimento, nas origens, foi escolhida a via partidária como caminho para as conquistas políticas que viabilizariam a nossa existência como cidadãos habilitados a "desfrutar" dos direitos humanos e das leis. Começou então uma simbiose entre as entidades LGBTs e os partidos políticos que entenderam que essa era a forma mais eficiente de atuar. A isso juntou-se o interesse de determinados partidos em ter o segmento LGBT ao seu lado. Nada mais do que o velho conhecido clientelismo.

Uma das conseqüências mais visíveis dessa escolha, a meu ver, foi o distanciamento da militância da população LGBT, ou seja, de nós pobres mortais, em função disso, alienados. Afinal, pra que eles precisam da massa se são amigos dos "homi"? É só ir lá no gabinete, ou na plenária do partido, levar as reivindicações. Isso sem falar que nem todo mundo tem estomago, ou "talento" pra esse jogo partidário, então nem se aproxima.

Ao invés de formarmos uma consciência e uma responsabilidade social, preferimos manter a massa nessa coisa amorfa com a qual nos deparamos hoje, sem capacidade de mobilização ou organização, dependendo de interesses dessa ou daquela ONG que, por sua vez, depende do interesse desse ou daquele partido para ter suas necessidades básicas atendidas.

E assim vamos seguindo, entre clientelismos e paternalismos. Conquistando uma coisinha ou outra, nos dando por satisfeitos. Afinal, onde estaríamos se não fossem esses abnegados que dão a cara a tapa?

O problema é que quando temos que aprovar um projeto de lei, como a PL 122/2006, para deixarmos de ser assassinados, violentados, escarnecidos, constatamos que nossa "mistura" com os partidos políticos não funciona de forma tão eficaz assim, pois, batemos de frente com outros grupos que se utilizam de uma forma infinitamente mais eficiente de uso do esquema político-partidário.

Afinal, se é pra usar partido político como forma de conquistar alguma coisa, pelo menos vamos fazer direito, né gente?

Sigamos o exemplo dos "Proprietários de Jesus" (aleluia!), que usam os partidos e não são usados por eles. A bancada dos "Proprietários" tem gente em tudo quanto é partido, né não? Então..., assim, sim.

Pelo menos é melhor que ficar fazendo proselitismo para a Old Left que, para quem não sabe, já foi adepta do virtuoso lema "quanto pior melhor".

É isso.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Conhecimento é poder


A gente sempre se espanta quando verifica que o mundo é maior do que a nossa percepção dele, que as pessoas são muito mais diversas que as que nos cercam, por mais variadas que elas sejam, que informação e conhecimento não são uniformemente distribuídos por toda a humanidade.

O que a gente sabe, aprende ou vai atrás para saber ou aprender, envolve mecanismos aparentemente muito complicados. Ou pelo menos é essa a minha percepção. Logicamente existem fatores objetivos, como os sócio-econômicos por exemplo, que facilitam ou dificultam o acesso à informação. Mas, com o advento (eita!) da internet, não é fora de propósito imaginar que as coisas ficaram bem mais democráticas, e quem está sentado em frente a um monitor participando das tais "listas" de discussão ou de fóruns em comunidades do Orkut, tem possibilidade de juntar lé com cré e falar alguma coisa que preste, certo?

ERRADO!

Leeeeedo engano!

Você imagina que quem é convidado para ser colunista de um portal, tem condições de falar ou pelo de REPRODUZIR informações corretas, enfim, tem um mínimo de competência, certo?

VRAAAAAAAAAMMMMMM! ERRADO! (de novo)

O que você encontra é um grande, ENOOOOORME, amontoado de "achismos". Eu acho isso, eu acho aquilo... partindo de parâmetros errados, intelecções equivocadas, informações ultrapassadas... ai, ai...

É impressionante... Você vê que as pessoas não desenvolvem nem senso crítico. É como se elas aprendessem adição direto na calculadora sem passar pelo aprendizado e compreensão de ordens de grandeza... assim se suas calculadoras dizem que o famoso 2+2=5, por que você apertou um botão errado, você vai apostar sua vida que é 5 e ponto final!

Fora isso... posso estar errada mas, quando você se coloca no mundo, percebe quem você é, descobre sua sexualidade e no que isso implica se você estiver fora do padrão heteronormativo, informação DE QUALIDADE, é FUN-DA-MEN-TAL!!!

Repitaaaa... FUN-DA-MEN-TAL!!!

Conhecimento é poder! Informação CORRETA é poder!

Felizmente, quando comecei minha vida internética tive uma graaaaaaande sorte. É, em tudo na vida é preciso um pouco de sorte. Logo de cara fui parar no lugar certo. Encontrei um site, na época ainda blog, que me colocou no rumo. Mais, me deu um rumo. Aprendi, descobri e desenvolvi. Mergulhei e emergi. E tive o grande privilégio de me aproximar da criadora e conhecer seu processo de criação, sua seriedade, sua responsabilidade, enfim... tudo o que construiu seu prestígio. Esse blog, o Lésbica Disléxica, tem absolutamente TUDO a ver com ela. Só existe por causa dela... (que inclusive é quem pega no meu pé, delicadamente como uma mamute, pra que eu atualize, mas isso é outra história...).

Assim, só me resta... mandar um humilde, porém sincero... VALEU BF.! Você e o UNV já conquistaram a vida eterna! AWIKA!

"Mais importante que saber do que se trata é saber onde procurar a resposta; mais importante que conhecer é ir às fontes do conhecimento. Não existe saber sem consulta; esse é o ato mais humilde que um trabalhador intelectual pode praticar."

Antonio Houaiss

domingo, 20 de julho de 2008

Paradoxos


O Brasil é o campeão das Paradas do Orgulho GLBT e o campeão (para não dizer campeoníssimo) em crimes homofóbicos. Isso em um país onde índices e estatísticas não são nem um pouco confiáveis significa que somos praticamente hours concours em violência contra homossexuais.

Olha, qualquer um que tiver o mínimo, mí-ni-mo, de... sei lá... inteligência, sensibilidade... vergonha na cara mesmo, não pode deixar de atrelar uma informação à outra: campeão em paradas-campeão em crimes. Estufar o peito pra se orgulhar de uma sem morrer de vergonha da outra, SIMULTANEAMENTE (!), é simplesmente ser o protótipo do imbecil alienado burro! repito... BURRO!!!

E o que você quer dizer com isso? Que não devemos mais ter Paradas? Não devemos ir às Paradas? Não devemos ficar alegrinhos com elas? NÃO, imbecil! Só quero que você não se satisfaça só com isso!

Um aspecto muuuuito interessante do comparecimento em massa às Paradas eu encontrei nas palavras do Trevisan (que, DIGA-SE, é favorável à elas): as pessoas irem às Paradas independe da "militância", ou seja, a Parada é o ÚNICO evento do qual todos podem participar (!?!). Bacana, né? Ou seja (de novo), todos os outros eventos promovidos pela militância são praticamente secretos... rsss... ninguém sabe, ninguém viu... a despeito de eles acontecerem aos borbotões... (!).

Por que será?

Existe alguma ONG, entidade, clubinho, grupinho, que tenha alguma noção sobre o número de blogs feitos por homossexuais que existe na net? Alguém tem um mailing? Como é que falam com as pessoas? Huuum... deve ser por isso, né?

Não é difícil ter consciência do que significa e no que implica ter a mídia oficial (jornais, TV, etc) como única forma de divulgação. Mas esse é um assunto que merece uma analise mais cuidadosa e fica pra próxima vez.

Ainda no que se refere às Paradas, vou compartilhar meu alento com vocês. Abaixo reproduzo as lúcidas palavras da Regina Facchini e Julio de Assis Simões. Oásis no deserto e esperança de propagação de consciência:

"A visibilidade política da Parada ou de qualquer manifestação pública é proporcional à quantidade de agentes politizados envolvidos na sua construção. Por isso a importância de cada integrante da multidão que a compõe. A Parada é formada por cada um de nós e sua capacidade de transformação social depende do grau de envolvimento que cada um de nós tem em relação a ela. Fica aqui o convite e o desejo: que cada um e cada uma de nós dancemos muito na próxima Parada, pois, como dizia a feminista libertária Emma Goldman, “se eu não puder dançar esta não é minha revolução”, mas que nossos corpos, corações e mentes estejam sintonizados com a idéia de que a construção de um mundo sem racismo, machismo ou homofobia depende do governo, das leis e das políticas públicas, mas também depende de cada um de nós." - Fragmento - discurso de Regina Facchini durante lançamento do livro "Parada - 10 anos do Orgulho GLBT em SP

"Para conquistar esses direitos, o movimento gay precisará aprender a dialogar com a própria base GLBT e a sociedade civil, avaliam os antropólogos Regina Facchini e Julio Assis Simões, autores de Na Trilha do Arco-Íris: Do Movimento Homossexual ao GLBT. ''As paradas são muito importantes, mas o movimento precisa melhorar o diálogo para não se firmar como um movimento de massa de um único dia do ano. O ativismo ainda está focado no diálogo com o Estado, fóruns e entidades'', diz Simões. Apesar das milhões de pessoas na Parada, Regina avalia que falta articulação para que os gays entendam que há direitos a conquistar. ''O movimento gay não é de massa. Se fosse, as coisas já teriam mudado há muito tempo. O ativista tem de aprender a falar ao coração das pessoas.""

Após 30 anos de luta, movimento gay quer mais que só um dia de Parada.


Eu também!!!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Desconstruir o velho para criar o novo



No primeiro ano de meu curso de arquitetura tive um professor que disse, talvez, as duas únicas coisas mais fundamentais de se saber pra quem deseja ser um arquiteto.

A primeira foi na área, digamos, técnica do modus operandi da arquitetura e consistia em um esquema da seqüência básica de um projeto. Algo extremamente simples, mas que não está escrito em nenhum livro e não consta da relação dos itens a serem ensinados, nem nas matérias específicas de projeto.

A segunda foi mais profunda e subjetiva, pelo menos pra mim, e "serve" pra tudo na vida, não só pra arquitetura. É o seguinte: todos nós, desde de o primeiro minuto de consciência, vamos criando um repertório, um arquivo, um gabarito, de formas, cores, espaços, sensações, etc etc e mais infinitos etecéteras. Assim, quando temos necessidade, vamos lá e pegamos no nosso acervo a informação que necessitamos. Até aí, nada de novo, certo? O lance é que fazemos isso também com nossos comportamentos, emoções, com nosso julgamento/avaliação, com as escolhas que fazemos durante a vida e, principalmente, com os modelos que adotamos e que achamos que serão a receita para sermos felizes ou simplesmente o que absorvemos como sendo o certo (o tal do "é assim que tem de ser").

Então, se no seu repertório inconsciente, o gabarito para um relacionamento é o modelo heteronormativo (o que acontece com 11 entre 10 seres humanos que vivem em sociedade) esse vai ser o modelo que você vai tentar reproduzir... mesmo que você seja... homossexual...! Eeeeeita!

É, somos como as abelhinhas que fazem suas casinhas com aquelas coisinhas hexagonais, não por que acham bonitinho, mas por que enxergam o mundo dessa forma.

Caaaalma irmãs, não vos desespereis... Não somos abelhinhas.

Meu professor (e eu também) guardou a melhor parte pro final: a grande sacada é que você pode e deve DESCONSTRUIIIIIIIR...!

O grande pulo do gato para um arquiteto, e todos somos os arquitetos de nossas vidas, é desconstruir o que temos como padrão e CRIAR!!

Novas estruturas, novos espaços que propiciem novas bases de relação, novas formas de ser e se relacionar.

Mesmo por que, como escreveu uma amiga, é "uma pena nós, homossexuais, não aproveitarmos essa nossa condição transgressora pra estabelecermos também novos conceitos sobre as relações, de forma a torná-las mais saudáveis e arejadas."

Imagem: projeto da arq. Zaha Hadid

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sobre essa tal liberdade...


Qualquer dia desses gostaria que alguém me explicasse o que significa, de verdade, a tal liberdade de culto. Mas já vou avisando que não aceito qualquer resposta. Quero uma resposta honesta no sentido de isenção de qualquer interesse, ok? Eqüidistante dos extremos.

A primeira definição de religião que fez soarem todos os sinos dentro da minha cachola eu encontrei em um livro sobre Hatha Yoga, escrito pelo professor Hermógenes, decano da Yoga no Brasil, um cara realmente admirável, honesto, coerente, enfim, um sujeito 100% na minha modesta opinião. Pois bem, o mestre Hermógenes tratava logo na introdução do livro de deixar claro o caráter não religioso da Yoga. Infelizmente não me lembro das palavras com exatidão, mas ele deixava claro também, embora sutilmente, que as religiões eram uma forma de exercício do poder, não divino, mas humano!!!! blem blem blem...

Foi a primeira vez que ouvi isso, tinha uns 12 ou 13 anos, e... encaixou di-re-i-ti-nho. Fechou o circuito. Bingo... então era isso que me desagradava nesse lance todo de religião.... que me fazia ser impermeável àquilo tudo... ufa! Aleluia! Até aquela altura me sentia como aquele solo árido da parábola, saca? Aquela das sementes jogadas no espinho, no chão seco e duro ou, finalmente, no solo fofinho e rico em nutrientes onde, enfim, germinariam pra caramba. É... eu não era nada disso. Não era uma questão de aridez do meu espírito. O que eu tinha era um certo senso crítico em relação à religião. Beleza!

E assim venho levando minha relação com crenças em geral, com muuuuuuuuuuuuuuuuuuito senso crítico. Isso sem falar em bom-senso puro e simples.

Voltando à liberdade de culto. É claro que todos devem ser livres para acreditar, professar e seguir sua fé. O problema é quando a "religião", ao promover e defender a condenação de quem não está dentro de seus parâmetros, nos obriga a questionar essa tal liberdade.

Sinto muito, mas se a sua religião te fizer queimar livros, humilhar pessoas, ou quiser impedir o direito da existência de alguém ou interferir na sua liberdade, algo está muito errado. Com ou sem trocadilho, trata-se de má fé.

sábado, 21 de junho de 2008

Por onde deveríamos começar...




Essa semana foi, digamos... "genética"(???)! Me envolvi em certas discussões sobre diferentes temas, mas, dando uma geral nos assuntos discutidos, pude perceber um ponto em comum sobre eles: origem... início... ou, explicando melhor, por onde deveríamos começar para entender as coisas.

Tenho essa mania, talvez reforçada pela minha formação acadêmica, de querer começar a construir meu entendimento, pensamento, minha analise, começando pela base, pela estrutura..., do que quer que seja.

... e daí?

Bom... não é difícil constatar a dificuldade que as pessoas (homossexuais inclusive ou principalmente) tem para entender a diversidade sexual. Por que será que isso acontece?

Seguindo minha própria receita, ou seja, começando pela base, concluo que é por que não sabemos necas de pitibiribas sobre o que compõe nossa sexualidade. Confundimos absolutamente tudo! Gênero, Identidade, Orientação... (eita! tem tudo isso?!?)

Éééé.... tudo isso e mais um pouco.

Então é assim, ó:

GUIA RÁPIDO PARA O ENTENDIMENTO DA DIVERSIDADE

Componentes:

GÊNERO - sexo biológico
IDENTIDADE DE GÊNERO - papeis sexuais
IDENTIDADE SEXUAL - quem acredito ser
ORIENTAÇÃO SEXUAL - desejo

Obs: esses quatro componentes são distintos e INDEPENDENTES!

Só quando conhecemos todos esse componentes da sexualidade é que conseguimos entender quantas são as combinações possíveis.

E pra você conhecer você deve começar por aqui: http://www.uvanavulva.com.br/images/Claudio-Picazio.pps

Sim, sim, é um pps. Mas você já recebe (E ABRE) tantos pps todos os dias, não é mesmo? Aqueles com bichinhos, com musiquinha, florzinha, coraçãozinho... estrelinha... o que é que custa você abrir um que REALMENTE valha a pena?!? Um que REALMENTE vai te ensinar uma coisa importante?

Em tempo: esse pps não tem musiquinha, nem florzinha, nem... etc.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A hora é agora - Faça a sua parte


Está sendo divulgado que mais de 80% das 36 mil ligações que o Senado recebeu sobre a PL 122/2006, entre dezembro de 2007 e maio de 2008, são para expressar opiniões contrárias ao Projeto. Essa informação foi fornecida pela Secretaria de Pesquisa e Opinião Pública do Senado e foi divulgada pelo presidente da ABGLBT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais) Tony Reis, nesta terça-feira (10/06).

Tony Reis informou também que, segundo a diretora da Secretaria de Pesquisas, Elga Lopes, a maioria destas ligações partem de pessoas envolvidas com alguma religião e que são orientadas a ligar.

Assim sendo, o presidente da ABGLBT sugere que o movimento militante proceda da mesma forma e ligue para o Disque PLC 122/2006 (Alô Senado) para expressar sua opinião a favor da aprovação.

A LIGAÇÃO É GRATUITA!

Acrescento que esta não é uma responsabilidade apenas dos militantes. Cada um de nós, que temos o DIREITO de viver em um Estado Laico DE FATO, podemos e devemos nos manifestar pela aprovação da PL 122/2006.

Alô Senado (Disque PLC 122/2006)

0800 612211
Das 8h às 20h, nos dias úteis.


Outra opção SUUUUUUUPER fácil e rápida para quem não puder ligar é enviar uma mensagem através do formulário que existe no site do Senado.

É só seguir as instruções:

. Link para o fomulário na página do Senado aqui.

. Tipo de Mensagem: SOLICITAÇÃO

. Preencha seu dados.

. Na parte do formulário referente à Mensagem, selecione “Comissão e liderança” e abaixo “Todos os Senadores” e todos eles receberão a sua mensagem.

. Sugestão de mensagem:

Senhor Senador e ou Senhora Senadora: Peço que vote contra o preconceito. Vote contra a violência. Vote sim ao relatório da Senadora Fátima Cleide. Aprovar o PLC 122/2006 nesta comissão é simbolizar que o Senado é contra a violência cometida contra todos os brasileiros e brasileiras GLBTs.

SOLICITO A APROVAÇÃO DA PL 122/2006!

POR UM ESTADO LAICO DE FATO!

. Você receberá um número de protocolo referente ao envio de sua mensagem.

A HORA É AGORA!
FAÇA A SUA PARTE!

LUTE POR SEU DIREITO - LIGUE, ESCREVA, DIVULGUE!

sábado, 7 de junho de 2008

Lésbicas e Feministas - diferentes, apesar de algo em comum


Tenho observado nesse ano uma tendência nas caminhadas pela visibilidade lésbica de junção das causas lésbicas com as causas feministas, como o direito ao aborto por exemplo. Embora uma causa seja inerente à outra (somos mulheres, independente de orientação sexual), não vejo a vantagem de se juntar as duas coisas, já que isso só agrega mais polêmica e mais estigmas a nós, estigmatizando ainda mais o que já é tão estigmatizado. Afinal, já existe um "dia da mulher" onde as causas feministas podem e devem ser mais adequadamente defendidas. Ainda estamos lutando pela nossa visibilidade.

Somos mulheres e temos, como mulheres, uma série de direitos que precisamos fazer valer. Como lésbicas ainda temos um longo caminho a ser percorrido. E esse é o verdadeiro motivo pelo qual devemos nos unir, lutar, reivindicar. Seja numa caminhada, seja no nosso dia-a dia.

Reproduzo abaixo trechos de um texto de Mirian Martinho*, que encontrei no site Um Outro Olhar, que corroboram com o que eu penso:

(...)
"Voltando um pouco no tempo, lembremos que no início do MF, em nosso país e no mundo todo aliás, a sociedade machista acusava as feministas de reivindicarem igualdade para as mulheres porque elas não gostavam de homens, porque eram sapatões. As feministas se acovardaram diante dessas acusações e sacrificaram a questão lésbica para se manterem distantes desse estigma. O grau de invisibilidade a que as lésbicas ficaram sujeitas dentro do MF foi maior ou menor de acordo com a capacidade destas de aceitarem ou não essa situação. Nos EUA, onde as lésbicas já tinham alguma articulação até antes da emergência do feminismo, essa política não vigorou. No Brasil e em outros países da América Latina, essa política foi hegemônica até o início deste século." (...)

(...)
O Movimento Feminista não é o Movimento Lésbico. Embora o Movimento Lésbico, em todas as partes do mundo, principalmente na América Latina, tenha muitas vezes intersectado ou tangenciado o Movimento Feminista, sua história e suas protagonistas não são as mesmas, o que fica evidente principalmente quando lembramos da política de despolitização da questão lésbica que o MF manteve durante décadas. Outrossim, o Movimento Lésbico é composto, internacionalmente, além de lésbicas que se identificam como feministas, de lésbicas radicais, separatistas, políticas, de buches e femmes, lésbicas BDSMistas, lésbicas queer e de uma maioria de lésbicas que não está afinada com nenhuma tribo política, mas que, a seu modo, sempre foi mais visivelmente lésbica do que as feministas homossexuais jamais conseguiram ser nem no movimento que sempre carregaram nas costas.(...)


Link para o texto original, clique aqui.

(*) Miriam Martinho, é fundadora do Movimento Lésbico no Brasil, tendo organizado as primeiras entidades lésbicas brasileiras, a saber, Grupo Lésbico-Feminista (1979-1981), Grupo Ação Lésbica-Feminista (1981-1989) e Rede de Informação Um Outro Olhar (1989....). Editou também as primeiras publicações lésbicas do país, como o fanzine ChanacomChana (década de 80) e o boletim e posterior revista Um Outro Olhar (década de 90 até 2002). Atualmente edita o site Um Outro Olhar On-Line (www.umoutroolhar.com.br), lançado em junho de 2004.

Fundou igualmente o movimento de saúde lésbica no Brasil, em 1994, realizando a primeira campanha de prevenção às DST-AIDS para mulheres que se relacionam com mulheres, em 1995, e editando as primeiras publicações sobre o tema desde essa época (em 2006 publicou a 4 edição da cartilha Prazer sem Medo sobre saúde integral para lésbicas e bissexuais). Participou da organização do I EBHO (1980), organizou dois encontros LGBT nacionais (VII EBLHO/93 e IX EBGLT/97) e foi sócia-fundadora da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT-1995). Participou igualmente de vários encontros internacionais com destaque para a IX Conferência Internacional do Serviço de Informação Lésbica Internacional-ILIS (Genebra, Suiça, 28 a 31/03/1986), o I Encontro de Lésbicas-Feministas Latino-Americanas e do Caribe (Taxco, México, 1987) e a Reunião de Reflexão Lésbica-Homossexual (Santiago, Chile/ nov. 1992).

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Essa Tal Sociedade Organizada


Gostaria muito que alguém me explicasse de novo esse lance de "sociedade organizada"... tipo... "sociedade organizada" é bom pra que mesmo, hein?

Calma... Péra... Eu sei que no sistema político-econômico em que existimos, e que, diga-se de passagem, permite e incentiva esse tipo de relação associativa entre as pessoas, você tem mais é que se organizar mesmo! Do mais simples ao mais complexo. Sindicatos, grêmios, cooperativas... enfim... grupos! O negócio é "se juntar". Afinal, a tal da "a união faz a força" é uma lei da física! Né não? É sim! Científico, camaradas!

E a gente se junta pra que? Então, a gente se junta pra ter força, pra unir interesses, para conquistar direitos.... ou... simplesmente para não ser prejudicado... OPA! Repita! Para não ser prejudicado! Para conseguir sobreviver! Não ser trucidado, espancado, morto, roubado, violentado e mais um montão de coisinhas bacanas assim... tipo, te chamarem de "encarnação do mal".

E nossotros, GLBTTIs, nos encaixamos direitinho nesse caso aí: SOBREVIVÊNCIA!!!!

Pois é... Tudo beleza! Sociedade organizada, pessoas organizadas, força, união, mais equilíbrio, menos exploração. E onde será que começam os problemas nessa solução que parece ser a organização? Bem, acho que a antropologia pode explicar muito bem isso. Além do mais, como não somos nada originais, para nos defendermos das macro-estruturas de poder, repetimos o mesmo esquema, igualzinho, nas micro-estruturas que criamos para essa finalidade.

Aí, dança tuuuudooo!

Porque o poder tem um interessante efeito apaixonante em quem o conquista. Estabelece-se um caso de amor eterno. Um não pode viver sem o outro, o outro não pode viver sem o um... E aí, as coisas que deveriam ser mudadas, tendem a ser mantidas... por que mudar pode significar perder o poder. Interessante, né?

Mais interessante ainda é constatar que, mesmo estando calvas de saber de tudo isso, ainda continuamos a brincar de nos organizar.

Nenhum segmento da sociedade, sejam os GLBTTIs, os negros, as mulheres, os produtores de alface de Cotia, etc, tem a exclusividade da falta de visão que faz com que as mesmas estruturas, que não funcionam, continuem sendo usadas. Mas, no que me diz respeito (as questões relativas aos GLBTTIs), isso não me impede de dizer o que eu acho disso tudo, indo direto ao ponto, sem metáforas ou figuras de linguagem:

A tal militância continua usando uma mentalidade velha e arcaica para conduzir as discussões de propostas de políticas públicas, repetindo modelos estruturais de organização e representatividade com o velho ranço partidário-sindicalista, no pior sentido da palavra, o que faz com que incorramos nos mesmos erros de sempre, com os mesmos resultados insatisfatórios e alimentando os mesmos vícios e vaidades que o poder proporciona em quem o exerce.

Isso não promove a unidade da qual tanto precisamos e não precisa ser assim.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Quase 8 ou quase 80


Estou aqui tentando achar uma linha de raciocínio para escrever sobre a Parada do Orgulho GLBTTI (o "I" é por minha conta, já que é raro encontrá-lo, mesmo na tal míííídia especializada) de ontem, 25/05. Uma balanço, uma avaliação, enfim... essas coisas. Ontem fiquei tentando acompanhar pela internet e pela televisão, afinal é isso o que as pessoas do resto do Brasil, quiçá do mundo, vão ver. Tô meio sem saber o que dizer. No que se refere à imprensa..., tudo meio... xoxo...

Será que é assim que as coisas acontecem? Ou overdose de informação ou uma coisinha aqui, outra ali, discretamente. É, acho que a Parada já entrou pro mainstream... ou foi absorvida pelo nosso magnífico capitalismo, como bem descreveu a A. Azevedo no seu comentário ao post anterior. Êta mundinho complicado!

No mais, nada mais... só vi, até agora, um rápido registro (melhor que nada?) de uma fala de um participante (não militante, diga-se) lembrando que podemos ter a maior Parada, mas somos os que menos têm direitos adquiridos... ou conquistados, em relação ao mesmo ranking.

Caminhada Lésbica, no dia anterior... novidades: UM trio elétrico... ãããã... 500 pessoas (100 no ano passado)... ããã... discurso da Soninha Francine (vereadora e candidata a prefeita.... enfim, não preciso apresentar) que deve ter sido legal por que ela é legal e escreveu um post legal no blog dela... ah, sim, e um slogan compriiiiiiiiiiiiido: "Ser lésbica é um direito. Nem igreja, nem mercado. Nosso corpo nos pertence. Por um Estado laico de fato". Caciiiiiilda!

É... vou ficar devendo um balanço mais decente do "evento". Quem sabe com um pouco de distanciamento histórico eu consiga dizer alguma coisa mais significativa.

Perguntinha: quantos por cento dos 189 milhões de reais, que a Parada rendeu só nessa edição, para a cidade de São Paulo, vão reverter em benefício, conquistas e/ou respeito para movimento GLBTTI?

Em tempo: um "T" é para os Travestis, outro "T" os Transexuais e o "I" significa Interssexos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

A Parada da Mídia


Não é uma beleza quando a gente encontra um texto que traduz exatamente o nosso pensamento sobre o que quer que seja?

O texto abaixo é um bom exemplo disso. Ele fecha uma idéia/impressão que eu tinha e ainda não tinha chegado a concluir.


Telejornalismo é inseguro para cobrir a temática gay, diz pesquisa

Redação Portal IMPRENSA

Enquanto a cidade de São Paulo se prepara para receber, no próximo dia 25, milhões de pessoas para a Parada do Orgulho Gay - com mobilização do comércio, da rede hoteleira, de agências de viagens e de empresas de entretenimento e lazer - a mídia impressa e eletrônica ainda é tímida na hora de dar espaço para a temática gay.

A constatação é do jornalista, historiador e professor Irineu Ramos, que, em sua dissertação de mestrado, analisa as reportagens que os telejornais das TVs abertas fizeram da Parada Gay de 2007, e que agora completam um ano.

"O jornalismo eletrônico deixa transparecer uma forte insegurança na hora de cobrir os eventos e os fatos gerados pelo acontecimento da Parada paulista. Tanto que é incapaz de relatar questões subjetivas do mundo homossexual", diz Ramos. Para o pesquisador, os telejornais tornam-se prisioneiros de temas-chavão e, com isso, produzem um gay que pouco tem a ver com a realidade.

Para explicar melhor a questão da identificação desses temas, o jornalista efetuou a clipagem (captura de imagens) de todas as reportagens das TVs abertas envolvendo a Parada de 2007, no período compreendido entre cinco dias antes da festa (a preparação) e dois dias após (o rescaldo). Nesse espaço de tempo, a Parada Gay foi notícia 48 vezes.

"Os telejornais praticamente ignoraram os aspectos relacionados à sub-cultura gay (o que daria subsídios e condições para uma discussão junto com a sociedade) e prenderam-se apenas em questões concretas, como o faturamento do comércio, a lotação dos hotéis e as ocorrências policiais envolvendo punks, roubos de celulares e assassinato de um turista francês, por exemplo", diz.

Ramos explica que ignorar toda a realidade humana de um segmento da sociedade - reduzindo este universo social a uma fonte de renda para o comércio - é estabelecer fronteiras que delimitam categorias sociais e culturais: "deixar de lado a diversidade que compõe o mundo homossexual é estabelecer regras de conduta e produzir mais desigualdade".

Uma das questões principais da reprodução da desigualdade está no fato de os telejornais não separarem sexo de gênero. "Isto é uma forma hegemônica de ver o mundo. A TV não consegue transmitir gêneros sociais sem estabelecer vínculo com o comportamento sexual", comenta. A falta dessa distinção faz com que o telespectador não consiga entender a diferença entre um e outro. Com isso, acaba reproduzindo conceitos preconceituosos.

Países como os Estados Unidos dispõem de entidades organizadas para reduzir o preconceito sexual na mídia. Em Los Angeles, por exemplo, a Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), instituição especializada na atuação junto aos meios de comunicação contra a difamação sexual é chamada por diretores de programas de televisão de cinema para identificar se determinado projeto de filme ou entretenimento tem cunho preconceituoso.

Fonte: Portal Imprensa

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Na Expectativa


Eu não estou entre as pessoas que acham que os fins justificam os meios. Não acho, por exemplo, que qualquer visibilidade é melhor que nenhuma visibilidade por que, geralmente, aparecer por aparecer significa muito trabalho para separar o que é real e o que não passa de uma oportunidade para chamar a atenção. E nesse quesito incluem-se estereótipos, distorções, manifestações isoladas, atitudes caricatas, sensacionalistas, histriônicas, enfim, muito resíduo que atrasa, dificulta e atrapalha a compreensão do todo.

Num mês onde a "maior Parada do Orgulho GLBTTI do planeta" se realiza, essas coisas todas vêm a minha cabeça.

A última parada que fui quebrou a significativa barreira do milhão. Tudo bacana, sem incidentes e tive a impressão, e isso pode não passar de um reflexo do que eu mesma sentia, de que todos que estavam lá voltaram pra casa com alguma sensação de orgulho, com algum tipo de entusiasmo por aquilo ter acontecido daquela maneira. Existia a expectativa de um up-grade no evento, mas não deixou de ser surpreendente.

Depois daquilo, fiquei pensando: como será que vamos lidar com a reação que isso vai provocar.

À parada passada eu não fui. Não tive a menor vontade. Como se algo me dissesse que tudo ia ser exagerado demais. Para o bem, com um pouco de sorte, e/ou para o mal. Só que o errado aparece mais do que o certo no mundo como o conhecemos.

E ei-nos aqui, às vésperas de mais uma parada. Os jornais adiantam que essa será uma parada mais da militância. Tomara!

Curiosidade e expectativa. Quero ter aquela sensação de entusiasmo de novo. Cruzem os dedinhos e preparem os olhinhos por que vou continuar falando sobre isso. E certamente a caminhada das lésbicas, que antecede a parada vai estar por aqui.

sábado, 10 de maio de 2008

A Nova Família - Revolução e Evolução



Eu acho que nasci num momento bem interessante da história da humanidade. Talvez não seja o mais interessante, mas sem dúvida é bem movimentado. Em que outro momento se experimentou uma velocidade tão grande na evolução da tecnologia ou quantos tiveram a oportunidade de viver numa época que permitiu testemunhar tantas mudanças em termo de usos, costumes, etc etc, e, agora o mais interessante: valores morais.

Sim, sim, crianças, quer queiram, quer não queiram, os senhores das regras e os seus obstinados seguidores e guardiões estão vivendo em tempos em que os rígidos ditames criados para atender às necessidades econômicas estão entrando em colapso, por que são artificiais. A estrutura tradicional da família, criada para assegurar a manutenção das riquezas acumuladas, do poder e do status quo, não funciona mais.

Enfim, meus queridos e minhas queridas, tá chegando a hora... da verdade. Essa é a minha sensação... ou será a minha esperança?

De qualquer forma, parece que finalmente começa a surgir uma frestasinha por onde os laços de afeto verdadeiros podem entrar e se estabelecer.

Novas famílias, novas dinâmicas. E os casais de lésbicas e gays que constituem família, me parece, exercer um papel fundamental nesse cenário, por que são o que melhor simboliza os tais laços verdadeiros... de afeto, de união.

Fundamental por que a luta que essas pessoas travam para terem seus direitos reconhecidos pelo Estado e pela sociedade, evidencia o que deve ser importante, ou melhor, as únicas coisas que devem ser importantes: amor, afeto, respeito, caráter.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fato & Ficção



Ro Ro, fato e ficção

por Vange Leonel

Hoje em dia, realidade e fantasia se misturam e muita gente não percebe a diferença entre uma e outra.

Se, de um lado, os programas de reality show transformam pessoas "da vida real" em personagens de ficção, por outro lado, invenções de mentes brilhantes (ou não) são tomadas por realidade pura.

Dias atrás, Angela Ro Ro -lésbica notória, cantora e compositora de humor inteligente- declarou à coluna Monica Bergamo, na Folha, que estava apaixonada por um ex-padre romeno.

Não se sabe se a declaração teve algo a ver com o depoimento da também cantora Ana Carolina, à mesma coluna, na semana anterior, dizendo estar a fim de fazer sexo com um homem.

Enfim, isso não interessa. O que chamou a atenção foi a dúvida suscitada pela declaração de Ro Ro: alguns fãs passaram dias se perguntando na internet se a cantora fez piada ou falou a verdade.

Na própria entrevista, Ro Ro revelou ter criado o romance com o ex-padre porque "a realidade nua e crua não daria conta de seduzir o público". Ou seja: mesmo afirmando entre dentes ter inventado tudo, a cantora, com talento de mestre prestidigitador, foi capaz de inocular a dúvida em alguns desavisados com um factóide perspicaz.

O truque funcionou. Ro Ro chamou atenção para o seu show. E ainda demonstrou que a mídia, mais que meio, é hoje espaço e palco em que fato e ficção acontecem quase sem distinção.

© Vange Leonel, para a Revista da Folha em 04.05.2008

Link original: http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf0405200823.htm

sábado, 3 de maio de 2008

Nenhuma informação ainda é melhor do que uma informação errada


Será que a facilidade de acesso à informação é indiretamente proporcional a qualidade da informação? Será que quanto mais informação tivermos ao nosso dispor mais desinformados seremos? Essas não são perguntas muito originais, mas é difícil não concluir que o estágio atual da comunicação não passa de uma daquelas ironias do destino. Ou seja, antes tínhamos cabeça mas a informação não estava disponível para todos. Hoje temos toneladas de informação entrando por todos os buracos do indivíduo e não sabemos processá-la, muito menos o que fazer com ela, muuuuuito menos saber distinguir o que presta e o que não presta.

Não saber distinguir é um grande problema, por que, infelizmente, a maioria dos que estão "produzindo" informação nos dias de hoje não têm o menor compromisso ou preocupação com qualidade. Competência e isenção são artigos de luxo. Um bando de gente escrevendo sobre um bando de coisas. De qualquer jeito.

É claro que essa constatação vale para a informação de uma maneira geral. Mas é claro, também, que a minha particular preocupação está dirigida ao que existe de informação disponível para as lésbicas. Dando uma olhada no que temos por aí, não posso deixar de ter a impressão de que nenhuma informação ainda é melhor do que uma informação errada. Será? Eu acho.

Complicado isso.

Me incomoda constatar que o conhecimento está regredindo, que certas edificações estejam sendo erguidas sobre bases envelhecidas e comprometidas. Pra algum lugar a gente vai, mas... Tinha a esperança de ser testemunha ocular de alguma evolução. Enfim...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Vindes todos e ouvis...


Tem certas coisas que incomodam. Esse lance dos sufixos por exemplo, é uma delas. É uma discussão que às vezes parece ser eterna, inglória, desnecessária, mas... pra mim é inevitável, irresistível meeeesmo. Não é difícil justificar por que o sufixo "ismo" não deve ser usado junto à palavra homossexual. O difícil é fazer com que certas pessoas "acreditem" na lógica explicação. Como se fosse uma questão mística que envolvesse fé, que necessitasse de boa vontade, ou sei lá...

É chaaaaaaaaaaaaato...

Bom, para os que necessitam de um discurso messiânico, lá vai:

"Vindes todos e ouvis... Irmãos... Irmãs... Em verdade vos digo, o sufixo "ismo", quando usado para designar COMPORTAMENTO confere ao substantivo ao qual é aplicado um caráter de PATOLOGIA!!! Amém?

Portanto, irmãos, irmãs, a não ser que vós queirais dizer que alguém seja doente por ser homossexual ou que isso é uma doença, não use o termo homossexualiiiiiiiiiiiiiismo... o correto é HOMOSSEXUALIDADE!!! ALELUUUUUUUUUUUUUUUIA....."

Ah, sim... para os menos avisados ou esquecidos do tipo "sem querer querendo": o mesmo vale pra "lesbianismo", viu? O certo é LESBIANIDADE! Mesmo que o corretor de ortografia do seu Windows diga o contrário, ok? Estamos combinados? Thanks...

Em tempo: Romantismo, dadaísmo, classicismo, etc, etc, etc, são designações de escolas filosóficas e/ou estéticas e/ou de estilo, portanto, NÃO se referem a comportamento e NÃO se encaixam na explicação acima, tá?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

E assim caminha (?) a humanidade...



Auto-aceitação não é uma tarefa simples. Nem fácil... Pelo menos quando a aceitação se refere a algo fora do padrão. Não negar o que se é, é apenas o primeiro passo. Importante, é verdade. Fundamental, sem dúvida. Mas outros devem vir na seqüência. O fato é que a tal auto-aceitação, por mais estranho que possa parecer, vai além de nós mesmos. Exige que olhemos para fora, para o que está ao nosso redor e, ainda, para o que está muito além de nós, às vezes em lugares que nem imaginamos. Ou seja, exige generosidade em relação a nós mesmas e, principalmente, em relação aos outros.

Se você não fizer esse caminho, é muito provável que caia na velha armadilha de estabelecer o que é certo e o que é errado. Criar padrões para os que estão fora dos padrões, discriminar os que já são discriminados, estabelecer valores e critérios errados para dizer quem é bom e quem é ruim... enfim.... Preconceito dentro do preconceito.

E assim caminha (?) a humanidade... com passos de formiga e sem vontade.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A dor e a delícia...



A música diz que cada um saber dor e a delícia de ser o que é. Hum... pois é... boas e más notícias. Primeiro as boas: isso é verdade, lógico, e quando nos lembramos disso muita coisa se ilumina. Agora, as más, ou pelo menos não tão boas: saber a dor e a delícia de ser o que se é não é suficiente! Talvez nunca tenha sido, mas, agora mais do que nunca.

A pergunta imprescindível e que, acho, ninguém se faz é a seguinte: você sabe qual é a sua responsabilidade em ser o que você é?

Ser homossexual, não implica apenas em saber sobre a dor e sobre a delícia, mas, principalmente, em saber o que isso significa numa sociedade erguida e dirigida de forma a atender e manter estruturas de poder e conseqüente dominação. Uma sociedade onde a norma é ser heterossexual e quem não se encaixa nesse padrão é a encarnação do mal, do errado, etc, etc, etc...

Não adianta resmungar, certas consciências são inerentes, certas obrigações são compulsórias. Não sei se isso se encaixa na dor ou na delícia, mas certamente é uma responsabilidade e, adivinha só, você não tem como escapar disso. Então, se oriente rapaz/menina! Capriche! E... enjoy it!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ser ou não ser... - um manifesto disléxico


A julgar pela "nova ótica" sobre sexualidade a humana, se o grande William Shakespeare vivo fosse, com toda certeza teria que dar uma atualizada em sua mais célebre citação, "Ser ou não ser...". Creio que, diante de tanta pluralidade de orientações e/ou ESCOLHAS(?), questionar ser (ou não) ou estar (ou não), fosse mais adequado. Isso porque, até onde me lembro, ser ou não ser eram os fatores determinantes e não incluíam a possibilidade "estar".

Já há algum tempo, pelo menos na parte ocidental do mundo, as pessoas começaram a perceber (a duras penas) que reduzir a sexualidade humana a duas ou três possibilidades é totalmente ineficiente, obsoleto, insuficiente, inadequado. Quem insistir nisso está condenado a não entender mais nada do que vai acontecer, cada vez com mais freqüência, daqui pra frente em termos de relações afetivas e expressão da sexualidade. Então...

Entre as milhares de conseqüências presentes nessa realidade, nós, homossexuais, volta e meia somos obrigados a ouvir a irritante expressão "opção sexual" quando alguém quer falar, o que quer que seja de bom ou ruim, sobre nossa sexualidade.

Voltamos então ao "ser" e ao "estar". O fato é que "ser" não é resultado de escolha, mas "estar" sim.

Quem é homossexual não está homossexual, é homossexual. Pode estar eventualmente, por uma série de motivos pessoais e/ou sociais, vivendo em uma condição sexual diferente de sua orientação original (o "ser"), mas... isso absolutamente não significa deixar de ser o que se é. Mesmo porque isso é im-pos-sí-vel. E isso vale para qualquer orientação sexual, evidentemente.

O kit para entendimento da realidade inclui sensibilidade, cabeça aberta e generosidade. Abandonar falsos moralismo, falsos pudores, clichês e estereótipos é fundamental.

Tempos complicados. Valores ultrapassados. Parâmetros falhos.

A fôrma na qual tentaram nos moldar não comporta mais nossa existência social, emocional, psíquica, por que nos reduz e nos mantém num estágio infantil permanente. Coloca a virtude onde ela não está.

Quem insistir em manter sua mente nesse paradoxo infanto-geriátrico estará sendo contribuinte e conivente com o colapso dos valores que está em pleno desenvolvimento.