domingo, 20 de julho de 2008
Paradoxos
O Brasil é o campeão das Paradas do Orgulho GLBT e o campeão (para não dizer campeoníssimo) em crimes homofóbicos. Isso em um país onde índices e estatísticas não são nem um pouco confiáveis significa que somos praticamente hours concours em violência contra homossexuais.
Olha, qualquer um que tiver o mínimo, mí-ni-mo, de... sei lá... inteligência, sensibilidade... vergonha na cara mesmo, não pode deixar de atrelar uma informação à outra: campeão em paradas-campeão em crimes. Estufar o peito pra se orgulhar de uma sem morrer de vergonha da outra, SIMULTANEAMENTE (!), é simplesmente ser o protótipo do imbecil alienado burro! repito... BURRO!!!
E o que você quer dizer com isso? Que não devemos mais ter Paradas? Não devemos ir às Paradas? Não devemos ficar alegrinhos com elas? NÃO, imbecil! Só quero que você não se satisfaça só com isso!
Um aspecto muuuuito interessante do comparecimento em massa às Paradas eu encontrei nas palavras do Trevisan (que, DIGA-SE, é favorável à elas): as pessoas irem às Paradas independe da "militância", ou seja, a Parada é o ÚNICO evento do qual todos podem participar (!?!). Bacana, né? Ou seja (de novo), todos os outros eventos promovidos pela militância são praticamente secretos... rsss... ninguém sabe, ninguém viu... a despeito de eles acontecerem aos borbotões... (!).
Por que será?
Existe alguma ONG, entidade, clubinho, grupinho, que tenha alguma noção sobre o número de blogs feitos por homossexuais que existe na net? Alguém tem um mailing? Como é que falam com as pessoas? Huuum... deve ser por isso, né?
Não é difícil ter consciência do que significa e no que implica ter a mídia oficial (jornais, TV, etc) como única forma de divulgação. Mas esse é um assunto que merece uma analise mais cuidadosa e fica pra próxima vez.
Ainda no que se refere às Paradas, vou compartilhar meu alento com vocês. Abaixo reproduzo as lúcidas palavras da Regina Facchini e Julio de Assis Simões. Oásis no deserto e esperança de propagação de consciência:
"A visibilidade política da Parada ou de qualquer manifestação pública é proporcional à quantidade de agentes politizados envolvidos na sua construção. Por isso a importância de cada integrante da multidão que a compõe. A Parada é formada por cada um de nós e sua capacidade de transformação social depende do grau de envolvimento que cada um de nós tem em relação a ela. Fica aqui o convite e o desejo: que cada um e cada uma de nós dancemos muito na próxima Parada, pois, como dizia a feminista libertária Emma Goldman, “se eu não puder dançar esta não é minha revolução”, mas que nossos corpos, corações e mentes estejam sintonizados com a idéia de que a construção de um mundo sem racismo, machismo ou homofobia depende do governo, das leis e das políticas públicas, mas também depende de cada um de nós." - Fragmento - discurso de Regina Facchini durante lançamento do livro "Parada - 10 anos do Orgulho GLBT em SP
"Para conquistar esses direitos, o movimento gay precisará aprender a dialogar com a própria base GLBT e a sociedade civil, avaliam os antropólogos Regina Facchini e Julio Assis Simões, autores de Na Trilha do Arco-Íris: Do Movimento Homossexual ao GLBT. ''As paradas são muito importantes, mas o movimento precisa melhorar o diálogo para não se firmar como um movimento de massa de um único dia do ano. O ativismo ainda está focado no diálogo com o Estado, fóruns e entidades'', diz Simões. Apesar das milhões de pessoas na Parada, Regina avalia que falta articulação para que os gays entendam que há direitos a conquistar. ''O movimento gay não é de massa. Se fosse, as coisas já teriam mudado há muito tempo. O ativista tem de aprender a falar ao coração das pessoas.""
Após 30 anos de luta, movimento gay quer mais que só um dia de Parada.
Eu também!!!
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Desconstruir o velho para criar o novo
No primeiro ano de meu curso de arquitetura tive um professor que disse, talvez, as duas únicas coisas mais fundamentais de se saber pra quem deseja ser um arquiteto.
A primeira foi na área, digamos, técnica do modus operandi da arquitetura e consistia em um esquema da seqüência básica de um projeto. Algo extremamente simples, mas que não está escrito em nenhum livro e não consta da relação dos itens a serem ensinados, nem nas matérias específicas de projeto.
A segunda foi mais profunda e subjetiva, pelo menos pra mim, e "serve" pra tudo na vida, não só pra arquitetura. É o seguinte: todos nós, desde de o primeiro minuto de consciência, vamos criando um repertório, um arquivo, um gabarito, de formas, cores, espaços, sensações, etc etc e mais infinitos etecéteras. Assim, quando temos necessidade, vamos lá e pegamos no nosso acervo a informação que necessitamos. Até aí, nada de novo, certo? O lance é que fazemos isso também com nossos comportamentos, emoções, com nosso julgamento/avaliação, com as escolhas que fazemos durante a vida e, principalmente, com os modelos que adotamos e que achamos que serão a receita para sermos felizes ou simplesmente o que absorvemos como sendo o certo (o tal do "é assim que tem de ser").
Então, se no seu repertório inconsciente, o gabarito para um relacionamento é o modelo heteronormativo (o que acontece com 11 entre 10 seres humanos que vivem em sociedade) esse vai ser o modelo que você vai tentar reproduzir... mesmo que você seja... homossexual...! Eeeeeita!
É, somos como as abelhinhas que fazem suas casinhas com aquelas coisinhas hexagonais, não por que acham bonitinho, mas por que enxergam o mundo dessa forma.
Caaaalma irmãs, não vos desespereis... Não somos abelhinhas.
Meu professor (e eu também) guardou a melhor parte pro final: a grande sacada é que você pode e deve DESCONSTRUIIIIIIIR...!
O grande pulo do gato para um arquiteto, e todos somos os arquitetos de nossas vidas, é desconstruir o que temos como padrão e CRIAR!!
Novas estruturas, novos espaços que propiciem novas bases de relação, novas formas de ser e se relacionar.
Mesmo por que, como escreveu uma amiga, é "uma pena nós, homossexuais, não aproveitarmos essa nossa condição transgressora pra estabelecermos também novos conceitos sobre as relações, de forma a torná-las mais saudáveis e arejadas."
Imagem: projeto da arq. Zaha Hadid
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Sobre essa tal liberdade...
Qualquer dia desses gostaria que alguém me explicasse o que significa, de verdade, a tal liberdade de culto. Mas já vou avisando que não aceito qualquer resposta. Quero uma resposta honesta no sentido de isenção de qualquer interesse, ok? Eqüidistante dos extremos.
A primeira definição de religião que fez soarem todos os sinos dentro da minha cachola eu encontrei em um livro sobre Hatha Yoga, escrito pelo professor Hermógenes, decano da Yoga no Brasil, um cara realmente admirável, honesto, coerente, enfim, um sujeito 100% na minha modesta opinião. Pois bem, o mestre Hermógenes tratava logo na introdução do livro de deixar claro o caráter não religioso da Yoga. Infelizmente não me lembro das palavras com exatidão, mas ele deixava claro também, embora sutilmente, que as religiões eram uma forma de exercício do poder, não divino, mas humano!!!! blem blem blem...
Foi a primeira vez que ouvi isso, tinha uns 12 ou 13 anos, e... encaixou di-re-i-ti-nho. Fechou o circuito. Bingo... então era isso que me desagradava nesse lance todo de religião.... que me fazia ser impermeável àquilo tudo... ufa! Aleluia! Até aquela altura me sentia como aquele solo árido da parábola, saca? Aquela das sementes jogadas no espinho, no chão seco e duro ou, finalmente, no solo fofinho e rico em nutrientes onde, enfim, germinariam pra caramba. É... eu não era nada disso. Não era uma questão de aridez do meu espírito. O que eu tinha era um certo senso crítico em relação à religião. Beleza!
E assim venho levando minha relação com crenças em geral, com muuuuuuuuuuuuuuuuuuito senso crítico. Isso sem falar em bom-senso puro e simples.
Voltando à liberdade de culto. É claro que todos devem ser livres para acreditar, professar e seguir sua fé. O problema é quando a "religião", ao promover e defender a condenação de quem não está dentro de seus parâmetros, nos obriga a questionar essa tal liberdade.
Sinto muito, mas se a sua religião te fizer queimar livros, humilhar pessoas, ou quiser impedir o direito da existência de alguém ou interferir na sua liberdade, algo está muito errado. Com ou sem trocadilho, trata-se de má fé.
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