
As coisas como são... Como são as coisas? Isso tudo que nos cerca, o lugar onde vivemos, as pessoas com quem convivemos... Nossa percepção, nossa necessidade de entender, nosso instinto de sobrevivência. O que somos e o que fazemos com isso. Sim, porque tudo depende do que fazemos com as coisas... ou, dizendo melhor, "O que somos é o que fizemos do que fizeram de nós" (Jean Paul Sartre).
Fascinação, espanto, irritação... são as reações mais comuns diante da interpretação que o outro tem de fatos, pessoas, atitudes, etc. É quase sempre chocante quando a gente constata que o que é importante pra nós não tem importância nenhuma pros outros. É... Olhar o mundo x olhar pra gente.
Olhar pra gente é fundamental. Olhar o mundo é imprescindível. Misturar esses dois "olhares", com o devido equilíbrio, deveria ser o ideal. Mas aí fazemos o que? Olhamos em volta e queremos ser iguaais aos outros... ou pior! Queremos que os outros sejam iguais a nós (!?!).
Uma das coisas mais difíceis de se conseguir é olhar o mundo e o outro sem os filtros ou parâmetros com os quais vamos sendo moldados durante nossa formação. Veja o caso do preconceito por exemplo. Ele é "colocado" dentro de nós desde tão cedo e de uma forma tão subliminar que é quase como se fosse mais um gene do nosso DNA ou algo que faz parte do nosso sistema nervoso autônomo como respirar, transpirar, dormir. Lutar contra nosso próprio preconceito é algo tão difícil e exige tanta energia e disposição que por vezes nos parece impossível.
Como qualquer ser humano decente, eu me envergonho dos meus preconceitos. Não quero tê-los, não quero sentí-los... mas, eles estão comigo. (Não é nem um pouco fácil escrever isso.) O que fazer? Como me livrar dessa matéria viscosa que parece que me reveste por dentro? Que distorce minha visão e contamina meu julgamento? Que pode me levar a cometer injustiças e causar sofrimento?
Bom... Feliz ou infelizmente nossa espécie tem esse negocinho chamado racionalidade e, conseqüentemente, capacidade cognitiva e livre arbítrio. E, ao contrário do que podemos imaginar, o que nos define é o nosso conhecimento, percepção e sensibilidade, não nossos condicionamentos. Condicionamentos não podem, não devem ter o poder de deformar a nossa capacidade de transformação, interna ou externa.
Se eu não consigo arrancar o preconceito de dentro de mim, posso ter consciência dele e agir ra-ci-o-nal-men-te contra ele, intencionalmente. Usar a força do oponente contra ele mesmo. Não me conformar e achar que "É assim mesmo". De que forma? Por exemplo não passando pra frente as idéias e conceitos errados que me foram incutidos e dos quais tenho consciência, que já consegui detectar em mim. Não é tão difícil assim. Exige atenção e vontade, se colocar no lugar do outro. Mas é possível de ser feito. É uma tentativa... e, nessa vida, temos no mínimo que tentar.