domingo, 31 de agosto de 2008
Livre Arbítrio
As coisas como são... Como são as coisas? Isso tudo que nos cerca, o lugar onde vivemos, as pessoas com quem convivemos... Nossa percepção, nossa necessidade de entender, nosso instinto de sobrevivência. O que somos e o que fazemos com isso. Sim, porque tudo depende do que fazemos com as coisas... ou, dizendo melhor, "O que somos é o que fizemos do que fizeram de nós" (Jean Paul Sartre).
Fascinação, espanto, irritação... são as reações mais comuns diante da interpretação que o outro tem de fatos, pessoas, atitudes, etc. É quase sempre chocante quando a gente constata que o que é importante pra nós não tem importância nenhuma pros outros. É... Olhar o mundo x olhar pra gente.
Olhar pra gente é fundamental. Olhar o mundo é imprescindível. Misturar esses dois "olhares", com o devido equilíbrio, deveria ser o ideal. Mas aí fazemos o que? Olhamos em volta e queremos ser iguaais aos outros... ou pior! Queremos que os outros sejam iguais a nós (!?!).
Uma das coisas mais difíceis de se conseguir é olhar o mundo e o outro sem os filtros ou parâmetros com os quais vamos sendo moldados durante nossa formação. Veja o caso do preconceito por exemplo. Ele é "colocado" dentro de nós desde tão cedo e de uma forma tão subliminar que é quase como se fosse mais um gene do nosso DNA ou algo que faz parte do nosso sistema nervoso autônomo como respirar, transpirar, dormir. Lutar contra nosso próprio preconceito é algo tão difícil e exige tanta energia e disposição que por vezes nos parece impossível.
Como qualquer ser humano decente, eu me envergonho dos meus preconceitos. Não quero tê-los, não quero sentí-los... mas, eles estão comigo. (Não é nem um pouco fácil escrever isso.) O que fazer? Como me livrar dessa matéria viscosa que parece que me reveste por dentro? Que distorce minha visão e contamina meu julgamento? Que pode me levar a cometer injustiças e causar sofrimento?
Bom... Feliz ou infelizmente nossa espécie tem esse negocinho chamado racionalidade e, conseqüentemente, capacidade cognitiva e livre arbítrio. E, ao contrário do que podemos imaginar, o que nos define é o nosso conhecimento, percepção e sensibilidade, não nossos condicionamentos. Condicionamentos não podem, não devem ter o poder de deformar a nossa capacidade de transformação, interna ou externa.
Se eu não consigo arrancar o preconceito de dentro de mim, posso ter consciência dele e agir ra-ci-o-nal-men-te contra ele, intencionalmente. Usar a força do oponente contra ele mesmo. Não me conformar e achar que "É assim mesmo". De que forma? Por exemplo não passando pra frente as idéias e conceitos errados que me foram incutidos e dos quais tenho consciência, que já consegui detectar em mim. Não é tão difícil assim. Exige atenção e vontade, se colocar no lugar do outro. Mas é possível de ser feito. É uma tentativa... e, nessa vida, temos no mínimo que tentar.
sábado, 9 de agosto de 2008
Clientes X Proprietários
Quando entrei no Orkut ainda era necessário que alguém, que já estivesse lá evidentemente, enviasse um convite etc e tal. Nessa época o Orkut tinha menos de 1 milhão de usuários... Bom, o que veio depois e como está atualmente, todo mundo sabe.
Enfim, hoje tenho uma certa (pra não dizer grande) preguiça em estabelecer contatos através do Orkut. Virou um grande entra-e-sai, perfis fakes, perfis múltiplos, sei lá.... desanimei... preguiça mesmo...
O que tenho feito no Orkut ultimamente é observar algumas comunidades que tratam de assuntos LGBTs. Raramente me animo a dizer alguma coisa porque, na maioria das vezes, as pessoas querem mesmo é falar sozinhas ou bater boca. São raras as oportunidades de troca de opinião ou conhecimento. Mas, pelo menos é uma amostra do mundo que nos cerca, da capacidade de intelecção, do nível de informação, etc etc etc.
Nessas espiadas pelos fóruns das comunidades, dois pontos têm me chamado a atenção. O primeiro diz respeito à falta de um conhecimento básico sobre sexualidade (gênero, identidade de gênero, identidade sexual, orientação sexual). O outro diz respeito à organização do movimento mesmo. Ou seja, a tal militância. É sobre esse segundo que quero falar.
Além de um grande desconhecimento histórico das origens do movimento, temos ainda de enfrentar uma confusão que determina TUDO o que está relacionado com isso, que é a confusão que se faz entre atuação política e atuação partidária.
Lá no começo do movimento, nas origens, foi escolhida a via partidária como caminho para as conquistas políticas que viabilizariam a nossa existência como cidadãos habilitados a "desfrutar" dos direitos humanos e das leis. Começou então uma simbiose entre as entidades LGBTs e os partidos políticos que entenderam que essa era a forma mais eficiente de atuar. A isso juntou-se o interesse de determinados partidos em ter o segmento LGBT ao seu lado. Nada mais do que o velho conhecido clientelismo.
Uma das conseqüências mais visíveis dessa escolha, a meu ver, foi o distanciamento da militância da população LGBT, ou seja, de nós pobres mortais, em função disso, alienados. Afinal, pra que eles precisam da massa se são amigos dos "homi"? É só ir lá no gabinete, ou na plenária do partido, levar as reivindicações. Isso sem falar que nem todo mundo tem estomago, ou "talento" pra esse jogo partidário, então nem se aproxima.
Ao invés de formarmos uma consciência e uma responsabilidade social, preferimos manter a massa nessa coisa amorfa com a qual nos deparamos hoje, sem capacidade de mobilização ou organização, dependendo de interesses dessa ou daquela ONG que, por sua vez, depende do interesse desse ou daquele partido para ter suas necessidades básicas atendidas.
E assim vamos seguindo, entre clientelismos e paternalismos. Conquistando uma coisinha ou outra, nos dando por satisfeitos. Afinal, onde estaríamos se não fossem esses abnegados que dão a cara a tapa?
O problema é que quando temos que aprovar um projeto de lei, como a PL 122/2006, para deixarmos de ser assassinados, violentados, escarnecidos, constatamos que nossa "mistura" com os partidos políticos não funciona de forma tão eficaz assim, pois, batemos de frente com outros grupos que se utilizam de uma forma infinitamente mais eficiente de uso do esquema político-partidário.
Afinal, se é pra usar partido político como forma de conquistar alguma coisa, pelo menos vamos fazer direito, né gente?
Sigamos o exemplo dos "Proprietários de Jesus" (aleluia!), que usam os partidos e não são usados por eles. A bancada dos "Proprietários" tem gente em tudo quanto é partido, né não? Então..., assim, sim.
Pelo menos é melhor que ficar fazendo proselitismo para a Old Left que, para quem não sabe, já foi adepta do virtuoso lema "quanto pior melhor".
É isso.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Conhecimento é poder
A gente sempre se espanta quando verifica que o mundo é maior do que a nossa percepção dele, que as pessoas são muito mais diversas que as que nos cercam, por mais variadas que elas sejam, que informação e conhecimento não são uniformemente distribuídos por toda a humanidade.
O que a gente sabe, aprende ou vai atrás para saber ou aprender, envolve mecanismos aparentemente muito complicados. Ou pelo menos é essa a minha percepção. Logicamente existem fatores objetivos, como os sócio-econômicos por exemplo, que facilitam ou dificultam o acesso à informação. Mas, com o advento (eita!) da internet, não é fora de propósito imaginar que as coisas ficaram bem mais democráticas, e quem está sentado em frente a um monitor participando das tais "listas" de discussão ou de fóruns em comunidades do Orkut, tem possibilidade de juntar lé com cré e falar alguma coisa que preste, certo?
ERRADO!
Leeeeedo engano!
Você imagina que quem é convidado para ser colunista de um portal, tem condições de falar ou pelo de REPRODUZIR informações corretas, enfim, tem um mínimo de competência, certo?
VRAAAAAAAAAMMMMMM! ERRADO! (de novo)
O que você encontra é um grande, ENOOOOORME, amontoado de "achismos". Eu acho isso, eu acho aquilo... partindo de parâmetros errados, intelecções equivocadas, informações ultrapassadas... ai, ai...
É impressionante... Você vê que as pessoas não desenvolvem nem senso crítico. É como se elas aprendessem adição direto na calculadora sem passar pelo aprendizado e compreensão de ordens de grandeza... assim se suas calculadoras dizem que o famoso 2+2=5, por que você apertou um botão errado, você vai apostar sua vida que é 5 e ponto final!
Fora isso... posso estar errada mas, quando você se coloca no mundo, percebe quem você é, descobre sua sexualidade e no que isso implica se você estiver fora do padrão heteronormativo, informação DE QUALIDADE, é FUN-DA-MEN-TAL!!!
Repitaaaa... FUN-DA-MEN-TAL!!!
Conhecimento é poder! Informação CORRETA é poder!
Felizmente, quando comecei minha vida internética tive uma graaaaaaande sorte. É, em tudo na vida é preciso um pouco de sorte. Logo de cara fui parar no lugar certo. Encontrei um site, na época ainda blog, que me colocou no rumo. Mais, me deu um rumo. Aprendi, descobri e desenvolvi. Mergulhei e emergi. E tive o grande privilégio de me aproximar da criadora e conhecer seu processo de criação, sua seriedade, sua responsabilidade, enfim... tudo o que construiu seu prestígio. Esse blog, o Lésbica Disléxica, tem absolutamente TUDO a ver com ela. Só existe por causa dela... (que inclusive é quem pega no meu pé, delicadamente como uma mamute, pra que eu atualize, mas isso é outra história...).
Assim, só me resta... mandar um humilde, porém sincero... VALEU BF.! Você e o UNV já conquistaram a vida eterna! AWIKA!
"Mais importante que saber do que se trata é saber onde procurar a resposta; mais importante que conhecer é ir às fontes do conhecimento. Não existe saber sem consulta; esse é o ato mais humilde que um trabalhador intelectual pode praticar."
Antonio Houaiss
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